terça-feira, 22 de julho de 2014

O Bovino Gado do tudo incluído

Pensei que vir dois dias para uma destas coisas com pulseirinha e tudo incluído me descansaria de todas as maleitas e cansaços rotineiros e me faria renascer enquanto ser divino que sei que sou. Vai daí considerei séria e filosoficamente a hipótese e reservei dois diazitos desta coisa de pulseira e descanso de obrigações culinárias.
Penetrei no recinto com esperança renovada no renascimento físico e mental e foi com um sorriso de esplendor que recebi a pulseira plastificada no pulso.
Pensei ter ouvido sinos e vozes angelicais entoando Aleluia, quando desci ao piso do restaurante, mas eis se não quando me deparo com algo inesperado. Um factor que não tinha considerado na minha equação de descanso físico e mental: Uma equação chamada Gado.
Eles vêm em manadas e puxam cadeiras com estridente alarido, pingando molho de carne e salada das beiças e falando alto. Eles esperam em ânsias a hora da janta, do lanche com Hamburgo e tosta mística, do almoço e formam aglomerados bovinos à porta do buffet, roçando o calcanhar no alcatifado, incentivando o próximo a chegar antes dele à mesa das carnes.
Eles coçam o umbigo e afloram a tomateira por dentro dos bolsos das bermudas pela canela, enquanto observam a unha engrossada pelo fungo, que amolecem com comovente dedicação na piscina do recinto.
Eles gritam com os putos para virem ao lanche e à bucha, enquanto eu grito com os meus putos para pararem de me pedir para irem ao sítio onde não estão, fazerem aquilo que não fazem, quererem aquilo que não têm.
Eles correm quando chamam para a Zumba à beira da piscina, ou para uma actividade de futebol nas bordas do relvado, tal e qual o gado conduzido no pasto.
Mas, acima de tudo, acima da terra e do céu, do esplendor e do pecado, do bem e do mal, eles vibram mesmo é com a comida e a bebida incluída e eu dou graças ao Espírito Santo por ter feito a experiência apenas por dois dias. É que o gado ruminante cansa e isto já não são férias nem são nada, é apenas um embuchar permanente e flatulento de coisa nenhuma.

10 comentários:

gralha disse...

Mas esqueceram-se de te entregar os tampões dos ouvidos e a pala para os olhos, com a pulseirinha? ;)

Descansar, descansar é ir de férias com os piquenos e a empregada. Ou melhor, duas: uma para fazer castelinhos na areia e outra para fazer as limpezas à moradia da Quinta do Lago enquanto tu relaxas na espreguiçadeira.

dona da mota disse...

É por estas e por outras que eu, neste ser eremita e pouco social em que me vou tornando, considero que férias é ficar na própria casa, com família e gatos e refeições para fazer, naquela experiência divina do que seria não ter que trabalhar por conta de outrem nem ter conviver com outras pessoas que não as minhas. Isso sim, são hoje em dia, as minhas férias. Nem praia, nem hotéis, nem resorts, nem viagens. Só nós no ninho. É nisto que me tenho tornado. Só para comprovar, depois de semana e meia na praia venham as 2 semanas de agosto na concha, bem fechada, do lar. É só o que peço.

Bailarina disse...

Estou contigo! só que eu estive lá uma semana, mas encontrei um lugar com menos gado com fome e não aderi a nada do que as manadas propunham! Claro que férias seriam com a gralha sugere, isso é que era!

Melissa disse...

Adorei ler isto. Já estava a questionar a opção e agora desempataste o que restava de dúvida.

Melissa disse...

Eu do ano passado para este consolidei a nossa opção de férias: sítios para onde os imigrantes voltam, e não para onde vão os turistas.

gralha disse...

Definição genial, Melissa.

Ana C. disse...

Meninas, estou com a Melissa, mas incluo aqui férias num sítio de onde tenham vindo os emigrantes, como França, Irlanda :)

dona da mota disse...

Melissa, pondera Mação, vais gostar.
Fica na Tejada, que além de ser turismo rural tem piscina e uns pequeno-almoços do outro mundo.
Tens o roteiro no meu blogue. Sim, Gralha, a promover a terra! Um dia, quando for grande, formo uma empresa em que o pessoal vem e já tem os dias todos programas, tipo pacote, que incluem praia fluvial, almoço daqueles em que o cesto do pic-nic está à espera no parque de merendas no meio da serra, que temos; visita arqueológica (devemos ter o cavalo mais bem desenhado de há não sei quantos anos numa rocha), uma tarde nas termas (que temos) com o melhor banho vichy do mundo e por aí. O mais giro: guio os clientes de mota (eles vão atrás de carro, claro). Ahahahahaah

Melissa disse...

Dona da Mota, vou já tratar disso, que fins de semana há muitos!

Naná disse...

Posso só dizer que eu sou apologista do all-in?! É que assim a malta almoça, janta e toma pequeno almoço nos hotéis, deixando assim os espaços de esplanadanço mais ou menos livres e arejados para quem cá vive o ano todo...
Egoístazinha que eu sou, eu sei...