4 da manhã. Tínhamos mudado para esta casa há cerca de 2 meses. Dormíamos profundamente. De repente vindos da escuridão oiço não um, não dois, mas 3 tiros a trespassarem qualquer coisa de metal. Quase caio da cama e grito para o Hugo:
- Liga à polícia Já!
A primeira coisa que faço é correr para o quarto da Alice. Ela dorme sossegadamente.
Depois de acender as luzes todas para o exterior e de me afastar das janelas, quase a andar de gatas como nas trincheiras, regresso ao quarto e sem olhar para o Hugo:
- Já ligaste?
Não queria acreditar quando percebo que ele continua a dormir. Eu tremo por todos os lados, em pânico, a voz engasgada. Ele dorme.
- Acorda!!!! Não ouviste os tiros?????
- Deves ter sonhado. Vá, deita-te.
Pego no telefone para ligar para a polícia.
- Mas como é que sabes a que é soam tiros? Alguma vez ouviste algum?
Acho que pior do que os tiros é aquela reacção impávida.
- Porra eu ouvi tiros!!!!! Levanta-te faz qualquer coisa!!!!
- Não vês que deves ter sonhado? Volta para a cama, amanhã tenho que acordar cedo. Adoras delirar.
Eu continuo de rastos, a minha vontade é dormir no chão. O meu coração bate com tanta força que parece querer sair disparado pela boca.
- Volta para a cama, já me estás a assustar.
- Eu é que já te estou a assustar? Olha para mim, vou desmaiar. Eu ouvi tiros aqui no jardim. Ouvi, ouvi, ouvi!
Hugo vira-se para o outro lado e cai num sono profundo. Eu passo a noite inteira desperta, à espera de ouvir tiros na escuridão. Como nas trincheiras de um cenário de guerra.
Amanhece finalmente. Ele levanta-se para ir trabalhar.
- Quando saíres procura cartuchos no jardim e vestígios de balas.
Ele dá-me um beijo paternalista.
- Essa cabecinha sonhadora.
- Isto parece um daqueles filmes em que alguém tenta dizer uma coisa e ninguém acredita.
Ele sai para o trabalho. Deduzo que não tenha encontrado nada, pois teria voltado atrás para me dizer. Aqui a Ana sai mais tarde de carro com a Alice e quando está a fazer marcha-atrás para sair de casa e passa pelo portão de metal. Ali estão eles. 3 buracos de bala cravados no nosso portão. Meto primeira, enfio o carro na garagem e ligo para a polícia. Quando o Hugo chegou a casa tínhamos o CSI Lisboa no nosso jardim e dois inspectores da PJ.
Não eu não moro perto de nenhum bairro problemático. Moro em Cascais. E o meu marido nunca esteve tão perto de levar com o rolo da massa no meio da testa, como esteve nessa tarde em que regressou a casa.
Revolução
Há 3 dias