Maria ficava acordada durante a noite a olhar Artur durante o sono, talvez tentando resgatar de dentro de si todas as memórias que não possuía. O seu dedo percorria-lhe o rosto adormecido, detinha-se na boca, nos cabelos, no olhar cerrado, mas não surgia nada, nem uma recordação, por mais suave que fosse. E, pouco a pouco uma certeza inabalável foi ganhando forma no seu coração. A certeza de que se amasse Artur de verdade se teria lembrado dele, tal como se lembrara do filho.
Ela não sabia viver sem amor, por isso foi de consciência tranquila que decidiu pôr fim a uma coisa que já não existia mais. Cada um tomaria o seu rumo, sem ressentimentos, sem mágoas, ficando apenas a uni-los Daniel.
Artur tentou dissuadi-la desse ponto final, não haviam passado por tanto para terminarem assim sem dar um pouco mais de luta. Mas Maria foi irredutível, já tinha lutado pela vida durante tempo demais, para começar uma batalha que julgava perdida à partida. E a realidade é que o casamento deles terminara muito antes do acidente. Havia uma grande cumplicidade entre os dois, mas pouco mais partilhavam para além do amor pelo filho. Algures no meio de tantos anos de casamento, haviam-se perdido irremediavelmente um do outro. Alice sentia-o, Artur sabia-o.
Artur acabou por sair da casa que os vira crescer como casal apenas com uma mala e uma certeza do tamanho do mundo, a que tinha acabado de recomeçar.
Arrendou o apartamento do prédio cuja fachada conhecida de cor. O apartamento que pertencera a Alice e à sua pequena filha e foi lá que decidiu mudar o rumo dos seus passos.
Desistiu de enfermagem e com algum dinheiro que tinha conseguido poupar, decidiu abrir uma pequena livraria de bairro que em pouco mais de 2 anos ficou conhecida pelos círculos de estudantes, pais de crianças pequenas, coleccionadores de livros antigos que sabiam encontrar o conselho certo e o espaço ideal naquela pequena livraria.
Artur era um homem diferente, fazia o seu trabalho com amor e isso era o suficiente para o despertar todas as manhãs com um sorriso nos lábios.
Apenas uma coisa se mantinha inalterada dentro de si: Alice. Aquele dia que haviam passado juntos em tantos sentidos tinha sido o seu ponto de viragem e ele apenas queria poder dizer-lhe isso. Todas as noites se perguntava o que seria feito dela, se estaria bem, se pensaria nele, ou se já não passaria de uma recordação distante para aquela mulher agora tão efémera como um sonho.
Por isso foi como num sonho que naquele sábado de manhã viu entrar na sua pequena livraria uma mulher que conhecia tão bem, mas que parecia tão mudada. Trazia um pequeno papel na mão e dirigiu-se às prateleiras dedicadas aos livros de medicina. Artur fitou-a por longos momentos até conseguir perceber que era mesmo ela que tinha acabado de entrar ali, pois parecia mais nova, mais bonita ainda do que se lembrava e trazia consigo uma tremenda luz. Artur lembrava-se de uma mulher triste, envelhecida antes do tempo e curvada por uma enorme desilusão. E a mulher que via agora à sua frente era alguém completamente diferente.
Artur aclarou a voz presa por um tremendo nó de comoção, mas mesmo antes de formular o nome que queria dizer, ela virou-se e encarou-o como se o tivesse sentido...
O que é que foi feito de Alice este tempo todo, o que é que faz naquela livraria, como é que está a vida dela. Será que Artur foi assim tão importante para ela?
Aqui os tens Miguel, são todos teus. O episódio que vais escrever será o penúltimo, por isso dá-lhes toda a tua dedicação :)
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Há 1 dia
12 comentários:
Beeeeem... isso é que foi um twist na história!! Maria e Artur em diferentes caminhos... Alice a procurar livros de medicina... Cá para mim o desgraçado do homem ainda vai acabar sem nenhuma das duas!!!
Tenho de pensar bem no que lhes vou fazer, afinal será o penúltimo episódio!
Miguel, mas qual twist, qual carapuça, a história praticamente andou sozinha, eu não fiz nada :)
Não quero que o Artur acabe sozinho, coitado do homem...
Eu também não gostava que ele acabasse sozinho. Tanto mais que foi a própria Maria que decidiu a separação. Agora ele tem o caminho livre, porque não ser feliz? Ńão me digam que a Alice casou e está muito bem de vida. Livros de medicina, serão para ela ou para o marido? Aguardemos. Bjs
Mariinha, apesar de achar que as grandes histórias de amor são aquelas em que o amor não se chega a concretizar em pleno, neste caso e como afinal de contas é uma novela. Tem que ter um final feliz :)
Uma livraria, o Artur? ;-) Isto vem confirmar a suspeita de que os autores polvilham sempre um bocadinho das suas características/sonhos nas suas personagens, eh eh eh!
Tá giro!
Socas, como já tinha escrito sobre a livraria dos meus sonhos, achei giro enfiar isso na novela, mas se estivesse a escrever noutro sítio provavelmente punha o Artur fazer outra coisa qualquer, mais coerente. Por isso nem sempre é verdade essa suspeita :)
Pois eu amei este episódio. Parece que o estou a ver na televisão. Quase consigo imaginar o cheiro da livraria do Artur e adoro a sensação de amor adiado, mas não perdido, que paira por todo o texto!
Mais uma vez, well done, Ana C!
;)
Ana. Muito obrigada, eu adoro a sensação de amor adiado, acertaste na mouche...
Mais uma vez gostei. Obrigada por dares esta reviravolta na historinha deles. A Maria e muito boa pessoa, mas o Artur já merecia ficar livre para amar.
A 2 episodios do fim, multiplicam-se os acontecimentos e a agitacao!! Tal como qualquer novela...
Muito bom!
Tasha, uma novela é sempre uma novela. Nada como uma boa reviravolta nos destinos dos nossos personagens...
Acho que o Artur deve ficar com a Alice, mas não deixes a Maria sozinha! Emparelha-a com o fisioterapeuta, pelo menos! Coitada da rapariga, amnésica e sem homem para a confortar!
Que pena que a novela está quase a acabar...
banita, prometo que vou ouvir os teus conselhos...
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