Uma das coisas que mais aprecio em alguém é a capacidade para entender o que estou a dizer mesmo antes de terminar o raciocínio.
Fico sempre um bocadinho impaciente quando tenho que explicar tudo outra vez, regra geral digo: Esquece, não era importante. Mais impaciente fico quando a pessoa para quem falo me olha com uma cara completamente a leste do paraíso, fingindo que está a ouvir tudo, quando na realidade apenas espera a sua vez de intervir, ou pensa no que é que há de fazer para o jantar.
O que me leva a essa qualidade em vias de extinção, presente em cada vez menos pessoas: A capacidade de ouvir. Rara, pois o egoísmo crescente de cada um, impede-o de ouvir verdadeiramente o outro.
Sabem quando desabafamos alguma coisa muito importante para nós e do outro lado vemos impaciência por partilhar a sua própria experiência? Quase dá saltinhos na cadeira, tal é a quantidade de pulgas que sente no traseiro enquanto espera para intervir.
Onde é que estão as pessoas atentas, que enquanto nos escutam se delegam para segundo plano, se limitam a nós por aquele instante em que lhes abrimos o nosso coração? Nada parece ser mais importante para eles do que ouvir a nossa versão de tudo e depois com calma, dando tempo, emitem a sua própria opinião?
As pessoas estão cada vez mais egoístas, fechadas nos seus próprios mundos, atentas apenas aos seus próprios dramas e isso deixa-me tremendamente triste.
Grandes diálogos: O Apartamento
Há 1 mês
30 comentários:
Tens razão Ana, já reparei no mesmo, fazendo as mesmas reflexões. As pessoas ficam ansiosas para falar, para chamar as atenções sobre si próprias e quando o conseguem já não passam a bola a ninguém!
Um dia disseram-me que, se falar fosse mais importante do que ouvir, tinhamos duas bocas e uma orelha...
Esta frase marcou-me para a vida toda...
A verdade é que as pessoas hoje estão ávidas de serem entendidas e acolhidas. Acho que é por isso que atropelam os outros quando eles falam.
Também penso dessa forma. É tão dificil encontrar alguém que nos ouça. Mas ouvir mesmo e não apenas fingir que se ouve!
Neste aspecto devo confessar que sou melhor ouvinte do que faladora... A verdade é que me custa falar, mas nao me importo de ouvir durante horas mesmo que sejam as coisas mais estúpidas...
bjinho*****
Toda a gente é muito auto-referente hoje em dia! Se não, vejamos: blogs, twitter, facebook, orkut, tudo ferramentas para irmos debitando mais e mais de nós próprios, numa embriaguez egocêntrica.
(não é crítica, como sabes tenho os quatro e uso-os muito, é só constatação.)
Por falar em ouvir - e não só - há um conto extraordinário de Graham Greene chamado "The Invisible Japanese Gentlemen". Procura - procurem, aliás - e deleitem-se, já está na net. Sobre ser-se escritor, e ter olhos, e ter ouvidos, e mais uma mão-cheia de temas maravilhosos.
Cada vez mais as pessoas vivem muito viradas para o seu umbigo, numa vontade esquizofrénica de centrarem tudo e todos em si, esquecendo que ao seu lado também há quem precise de ser ouvido, de sentir atenção, ainda que por uns minutos apenas. A vida tem e deve ser feita de partilha. Somos todos dependentes de algo, mas não podemos usar essa dependência exclusivamente em proveito próprio.
Eu já fui assim. Sempre foi das minhas qualidades, uma das mais apreciadas por quem se relaciona comigo. Mas sinto que estou a perder esse atributo... Talvez seja como dizes Ana, talvez esteja a fechar-me no meu próprio mundo em detrimento do mundo exterior. E tenho pena...
Hoje em dia há uma necessidade do pequeno protagonismo, todos têm de ter uma história ainda mais interessante, mais divertida/dramática. Penso que é solidão e também reflexo da sociedade competitiva em que vivemos.È bom saber que ainda existem pessoas que sabem ouvir.
Ana a pessoa que melhor me sabia ouvir faleceu, vai fazer dia 4 do próximo mês 6 meses. Por isso, sei perfeitamente do que falas.
Ele ensinou-me a ser paciente, a ter calma, a saber ouvir, a ajudar.
Sinto tanta falta de alguém que me oiça e me ajude a orientar os pensamentos, sem ter aquele olhar de reprovação como se os meus problemas fossem insignificantes.
Sinto falta de alguém que, simplesmente, me dava um abraço ou me estendia a mão quando, na altura, não sabia o que me dizer.
beijinhos
Diabinhos eles não nos ouvem, só esperam pela sua oportunidade de falar....
Joaníssima, penso que bem lá no fundo tens razão. A tudo isto se chama solidão e ânsia de se fazer ouvir, pois talvez pelos mesmos motivos egoístas não sejam ouvidos pelos outros...
Quanto a essa frase de sabedoria popular, não podia estar mais de acordo :)
Rainha Mãe é cada vez mais raro encontrarmos alguém assim mesmo...
Sílvia minha querida és então uma das raras pessoas que sabe ouvir? Não imaginas como deixas orgulhosa a tua mana mais velha ;)
Melissa para não variar adorei o teu comentário. Estás a ficar uma pró em relações humanas. Embriaguez egocêntrica é a frase do dia :) Vou procurar o conto e quem sabe enfiar aqui um excerto ;)
OnlyWords os comentários a este meu post excederam as minhas expectactivas. O teu não é excepção. Gostei muito da tua reflexão...
João Pedro aprecio muito a tua franqueza. Provavelmente o mal é que também não tens quem te oiça, então quando apanhas uma vítima sentes necessidade de te fazeres ouvir e isto é um ciclo vicioso...
Joana tu nem me fales daqueles que têm sempre uma história superior à nossa, mil vezes mais fantástica, mais dramática, mais comovente. Ai que nervos!!!!!
L as tuas palavras comoveram-me. Tenho pena que tenhas perdido alguém que te sabia ouvir sem olhares de julgamento. Mas também tenho a certeza que outro alguém se vai cruzar no teu caminho para te escutar...
olha, eu sou ao contrario dessas pessoas, e as vezes ate tenho medo k me levem a mal, por nao as deixar erminar de falar ou por interromper para clarificar alguma coisa k é dita...sem duvida que nao vou ser psicanalista, e ficar ali sentada na cadeirinha enquanto o paciente debita a sua historia no divã...sou demasiado interventiva ( manias k vêm do jornalismo)...
mas fico contente por saber k ha pessoas como tu k gostam de receber um constante feedback ao k nos contam...ainda bem!!!
Hannah uma coisa é intervires para entenderes melhor o que te contam, outra coisa é interromperes para começares a contar a tua própria história, cagando no que a outra pessoa te estava a dizer. Isso sim é que me tira do sério...
É tão dificil encontrar alguém que esteja disponivel para nos ouvir. Cansa ser sempre o ouvinte e quando queres ter o teu tempo de antena, percebes que não existe reciprocidade. Nem ressinto muito a necessidade de falar. Sempre fui mais ouvinte, sempre me fechei um pouco em mim.
Acontece que hoje em dia, por vezes, o meu corpo ouve mas a mente viaja quando também devia ficar. É complicado.
Talvez esteja a atravessar uma fase mais egoista, mais desprendida... Não sei.
Beijinho e obrigado Ana,
João Pedro, faço minhas as tuas palavras. Mesmo que sejamos mais fechados há sempre alturas em que temos necessidade de falar, de expor e de partilhar algumas coisas.
Quando não encontramos a pessoa que nos possa ouvir acabamos por nos abstrair do que dizem, perdendo-nos nos pensamentos.
Ana, ainda não ultrapassei bem esta perda. Mas nada que o tempo não cure.
Sim... até podem tar a falar da situaçao economica do csaquistao mas a verdade e que nao me importo nada de ouvir... quando é pra falar é que já e mais complicado... Mas sou capaz de ouvir nem que no fim tenha que dar raspanete =)
E quando a minha mãe esta no supermercado a decidir que marca levar e ao mesmo tempo a acenar-me com a cabeça a dizer que sim? As vezes perguntou-lhe: "O que é que eu te disse mãe?" Ela limita-se a REPETIR as ultimas palavras que ouviu =p
Sabes, eu falo pelos cotovelos, mas adoro ouvir os outros...E há pessoas com as quais me delicio tanto a ouvir que fico sem palavras. Mas se falam por cima de mim, ou não me deixam falar até ao fim, fico piurça!!!
Um abraço**
Tens toda a razão, Ana. E eu, que moro sozinha e por vezes precisava mesmo de falar, sei mesmo do que estás a falar. Habituei-me a fazer questão de ser para os outros o que gostava que toda a gente fosse comigo. Infelizmente tenho levado com algumas desilusões que me fizeram completamente borrifar-me para certas pessoas.
Mas se o ouvir fosse o único problema... E o estar lá para ajudar quando estamos doentes e precisamos que nos comprem pão ou fruta? Nobody por iniciativa - a não ser pai e mãe, os seres mais fantásticos do meu universo -, esperam que eu diga. E por vezes não queremos pedir, queremos só que nos leiam o pensamento e antecipem as necessidades.
Ainda há algumas espécies raras.
E os blogues vão ajudando...
chacomel AH AH AH
A maioria das mães não ouve de verdade, quando somos crianças está sempre a ver se temos ramelas nos olhos, ou o nariz sujo enquanto lhe contamos alguma coisa. Quando somos maiores é assim tal e qual como a tua :)
JS falar por cima não, por favooooor!!!!!!!!!! É um pesadelo em que só me apetece atirar um tijolo para cima da cabeça de quem me interrompe a todo o instante para introduzir informação que nada tem a ver com o que digo.
Precis essa parte do estar lá para as coisas mais curriqueiras necessárias, como ir comprar fruta, realmente é uma prova de amizade sim. É mesmo nessas alturas que filtramos as pessoas que se importam connosco...
Mais das minhas palavras para quê, rescrevo; ODEIO PESSOAS!
Enviar um comentário