Às vezes lembro-me daquele casal amigo que teve um casamento de sonho e cuja vida parecia tão encaminhada. Tiveram um filho na mesma altura em que tivémos a nossa filha, viviam numa casa com personalidade e tinham sempre imensos amigos por lá.
Mas houve um dia em que senti que as coisas não estavam iguais. De cada vez que ela abria a boca para falar sobre o que quer que fosse, ele olhava-a de lado. Mais ninguém parecia reparar naquele olhar de desprezo que se instalara desde a última vez que tinha estado com eles.
Mais tarde o olhar passou a palavras e de cada vez que ela abria a boca ele prontamente a contrariava com uma voz impaciente.
Às vezes acho que até a maneira como ela respirava, andava, ajeitava o cabelo o irritava.
Todas as pequenas coisas do dia a dia se devem ter transformado num martírio para aqueles dois, pois ela não entendia o porquê da implicância e ele não percebia o porquê daquela morte. Da morte de tudo o que sentira em tempos.
Uma guerra cujo alvo a abater era a outra parte do casal instalou-se e tudo era motivo para mais uma batalha.
E eu fiquei triste. Triste e assustada, pois pensei que até aqueles dois que eu tinha como uma espécie de modelo não estavam livres da morte súbita do amor. De acordar um dia e sentir que aquela pessoa nos provoca nojo em vez de desejo, choro, em vez de riso, gritos em vez de conversas, incompreensão em vez de entendimento.
Tal como a vida tem um prazo de validade, há amores que também têm essa data limite finda a qual expiram. Há quem diga que são sete anos, há quem diga que é quando os filhos estão criados e deixa de haver motivos exteriores para permanecerem juntos, há quem diga que alguns amores nascem feridos de morte.
Quanto a mim apenas sei que antes de chegarem ao fim os sentimentos vão dando gritos de alerta, sinais, pistas que muita gente se recusa a encarar e quando finalmente falam sobre isso, já não há nada a fazer...
Grandes diálogos: O Apartamento
Há 1 mês
12 comentários:
So so true! A verdade é que muitos casais rejeitam aceitar o final do amor entre as partes, deixando que a relação azede de vez, sem lugar ou espaço a um possível entendimento.
OnlyWords põem duas talas nos olhos e recusam-se a encarar a realidade. Quando reparam já é tarde demais para resolverem o que quer que seja. Já se disse muita coisa, já se magoou muito...
Acaba o amor mas não a relação. Ficam unidos não pelo sentimento mas pelos bens, pelos filhos, pela aparência. E recusam-se a lutar por algo melhor. Acabam por viver infelizes porque não conseguem visualizar uma relação para além daquela. Infelizmente existem milhentos casos assim... Esqueceram-se que a vida é só uma e devemos fazer tudo para que seja vivida em pleno!
É triste... mas como já li em algum lado nada é para sempre... por isso temos que aproveitar o melhor que podemos enquanto dura... beijokas
Por vezes, o simples partilhar a tempo pode ser o suficiente. Mas as pessoas unem-se por tantas razões... Sejam razões materiais, circunstâncias do momento ou mesmo o destino que assim entendeu.
Mais cedo ou mais tarde irão perceber que não se reconhecem um no outro. E quando é assim...
São muito menos, os casais que se unem por identificação pessoal. Mas nem sobre estes, me arrisco a pronunciar a palavra "Sempre".
Beijinho e bom fim de semana!
Rainha Mãe neste caso concreto eles divorciaram-se, mas sim há tantas relações que vivem nesta miséria de insulto, gritos, ódio e nunca mais se decidem a pôr um ponto final...
Poetic Girl eu gostava de acreditar que algumas coisas são para sempre, mas isto é a minha veia romântica a bombar ;)
João Pedro a palavra sempre é cada vez mais uma utopia sim. Infelizmente, pois custa-me assistir à morte do amor, quando esse amor era a sério.
A noção do "para sempre" sempre me inquietou um bocadinho. Ninguém pode assegurar que o que sente hoje se vai manter para sempre. Ninguém. Agora, se todos gostamos de acreditar que quando encontrarmos a nossa "Pessoa" é para a eternidade? Isso acho que sim. Pelo menos, até não ter motivos que contrariem essa crença, eu gosto de acreditar nela.
;)
É verdade! Do amor ao ódio vai um passo...
Os seres humanos, crescem, evoluem, mudam, logo, o que querem hoje, pode não ser o mesmo que vão querer 'amanhã'.
E temos de ter sempre essa eventualidade em conta. A efemeridade é, infelizmente, passível de acontecer em todas as vertentes da nossa vida. Por muito que nos custe.
Tenho na familia um caso, em que o amor era incondicional, contumavamos dizer que ele a tinha salvado a ela de um destino triste. Pela sua irreverencia, vontade de contrariar e amor pelo proibido, ela tinha mesmo o destino tracado... Ele veio resgatá-la e mudá-la para melhor. Vi-a casar pela igreja e de branco, como nunca imaginei ve-la... Hoje após uma traicao de cada parte, vivem um casamento de fachada, pois, simplesmente nao teem dinheiro para se divorciarem. Ela vive o dia-a-dia como a mulher mais miserável deste mundo e transfere para a filah todos os seus receios e frustacoes. Um caso mais que perdido!! E as criancas é que pagam!
Como diz a Banita, do Amor ao ódio é um passinho (os extremos tocam-se...)
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