Às vezes sinto que me lembro do mundo inteiro até aos dias em que boiava no útero materno.
Lembro-me nitidamente de estar ao colo do meu pai à beira mar e de me sentir segura.
Lembro-me do meu primeiro dia de escola, quando levei com um baloiço na cara e a morrer de vergonha não disse a ninguém como é que tinha ficado com o olho negro e inchado.
Lembro-me das bofetadas da minha professora primária quando errava a tabuada.
Lembro-me do pânico que senti no dia em que a minha mãe anunciou que voltaria para casa de mão dada com a minha professora primária para ter explicações de matemática.
Depois tenho as pessoas que me marcaram ao longo deste trilho de 34 anos e que não foram muitas. Pessoas de quem guardo as melhores memórias, ao lado de quem sorri, partilhei músicas, ideais, sonhos, paixões, tristezas, alegrias, piadas, sorrisos, choros.
Pessoas que apesar de se terem cruzado connosco brevemente, entraram de forma muito intensa na nossa vida, tornando-se impossíveis esquecer e por isso para sempre guardadas, lembradas. Ganhando vida ao som de uma música, na passagem por uma rua.
No meu intimo sempre pensei que não seria lembrada com a mesma nitidez com que lembro, pois eu lembro demais. Por isso é tão bom descobrir que também eu estou guardada dentro da memória de alguém, pois essa é para mim a melhor maneira de me perpetuar no mundo.
Grandes diálogos: O Apartamento
Há 1 dia
5 comentários:
Coisa de escritoras, guardar tudo. Uma delícia. Não te lembras das histórias todas também, com pormenores?
(A minha memória chega a chatear, está sempre a entupir-me o disco rígido com fait-divers que não interessam para nada. É virtualmente impossível alguém se contradizer comigo ao pé.)
que texto bonito...é tão importante marcar as pessoas, por muito breve que seja o tempo em que as vidas se cruzem!!! mas pelo que leio de ti, parece-me dificil que sejas esquecida, dp de cruzares o caminho de alguém
jocas gordas
Eu sou sempre a que tem muito boa memória... Mas para acontecimentos com outros, o que se disse, datas, etc. Coisas em miúda lembro-me pouco. E conheço poucas pessoas como eu (a minha mãe). Se calhar és uma :-)
Tenho um colega de faculdade parecido. E é a mim que telefona sempre que quer saber alguma coisa :-)
Em algumas coisas eu acho neurónio mal gasto... (não tenho aniversários em lembretes nem agendas, sei todos :-S) Ao menos as pessoas podem comentar: "lembraste-te!", em vez de "o teu telemóvel estava com bateria e apitou o meu aniversário!" ;-)
Sera que depois de eu morrer continuarei a ser lembrada? E por quanto tempo? Até as pessoas que me conhecem morrerem também? É assustador isto. Bjs
é um pouco por isto que tu dizes que me assusta morrer sem deixar filhos, algo que de certo modo perpetue a minha existência neste mundo quando partir...
http://maildeumlouco.blogspot.com/
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