Nas fotografias tudo é perfeito.
Elas mostram apenas aquele cagagésimo de segundo de felicidade e congelam-na, para podermos recordá-la vezes sem conta.
O sorriso pode ter sido rasgado apenas para a objectiva. Pode até ter surgido uma discussão violenta, um choro, uma birra, uma expressão zangada, um bufar de impaciência, logo após o disparo do botão. Elas não mostram o cansaço, o silêncio incomodado, nem o calor que se fazia sentir. Elas não mostram nada do que vai por dentro. Mas o que ficou foi aquele sorriso, naquele lugar bom e assim a vida parece uma sucessão de momentos perfeitos. Assim apetece até acreditar que é possível.
É claro que não falo das fotografias que revelam o lado negro da vida, das fotografias de jornalistas que nos impressionam, comovem,incomodam. Falo das nossas fotografias, daquelas que escolhemos, ou não partilhar. Daquelas que fazem a nossa vida parecer magnífica aos olhos dos outros.
Ando farta da obrigação de fotografar tudo.
Bem sei que imortalizar a felicidade em pequenos frames, é das coisas mais mágicas que possuímos, mas é uma prisão tremenda.
Quero ver pelos meus olhos. Descansar da obrigatoriedade de imortalizar tudo e todos.
Quero viajar sem máquinas, só com a máquina da minha memória.
Sei que jamais cumprirei este objectivo, porque me sinto culpada quando não fotografo, mas é um ideal que vai tomando forma no meu interior cansado das obrigações do mundo.
Grandes diálogos: O Apartamento
Há 3 semanas
6 comentários:
às vezes só lamento é que as fotografias que tiramos não retratem na perfeição certos momentos... e infelizmente a máquina fotográfica da memória, vai deixando os "negativos da vida" irem-se desvanecendo lentamente...
Tens razão... claro que tens, mas essa forma perfeita de vida nunca será a visão de quem "viveu" essa fotografia.
Eu, por exemplo, quando olho para as fotografias a minha cabeça faz um click e tudo o que se passou de marcante nesse dia em que a tirei surge na minha cabeça... o bom e o mau.
Já dei por mim várias vezes a ver fotografias antigas e a reviver tudo... coisas que nunca mais me tinha lembrado... boas e más... e isso, de alguma forma, é fantástico!
Beijinhos... muitos, muitos! ;)
Que engraçado! Ainda neste fim de semana pensei nisto, nesta obsessão pelas fotos, esta obrigação de termos que registar cada milésimo de segundo das férias, da ida à praia.
É verdade que depois é uma delícia ver todas aquelas fotos, reviver momentos únicos, etc...
Mas acho que perdemos um pouco a essência de vivenciar as coisas por inteiro, sem a necessidade de andarmos carregadas com máquinas o tempo todo.
Um beijinho!
Às vezes digo ao Hugo: hoje não levamos máquina, hoje é para curtir.
Triste, né?
É como se precisássemos de editar a vida em pequenos instantes para nos convencermos de que ela é boa.
A fotografia marca um momento, efectivamente. Só nós nos vamos lembrar do antes e do depois e quem as vê nada sabe dos instantes que lhe sucedeu. Da obrigatoriedade de um sorriso, da pose, da repetição, do frete.... Tantas vezes o frete ou o jeito, só para fazer a vontade. Mas uma foto implica também a partilha de um momento, possibilitar de alguma forma uma visita ao nosso mundo. Eu adoro fotografar. Seria mesmo um grande desafio partir para um sítio deslumbrante ou viver um momento único, não levar a máquina propositadamente e registar cada instante unicamente com a minha memória. Havia de sentir pena de não partilhar alguns momentos e eu própria de nao os reviver mais tarde, com o olhar.
Adoro fotografar mas também tenho fases tão assim...fartinha do porque_é_assim e do depois_tens_pena é isso e as pessoas todas acharem que nunca vão voltar aos sítios. E 'matam-se' por ver tudo. Eu cá acho sempre que vou voltar e o que não vir agora vejo depois quero é viver o momento sem o atrofia e a pressão da vidinha e dos outros. Ai o que me cansam os outros.
;D
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