Que organizada que sou. Não tenho moleskines, nem Ipad's, nem post-its, mas sei reger o meu tempo pelo tempo dos outros, mais concretamente pelo tempo dos miúdos.
O meu tempo caminha em função do tempo dos meus filhos e eu sinto-me a deusa do lar.
Olhem para mim tão cheia de organismos organizados, olhem para mim a conseguir fazer tudo, sendo que tudo inclui uma palete de tarefas tão dispares, como trabalhar, alinhavar um arroz de atum, mandar a roupa suja pela escada abaixo, dar banho a um bebé de dentes a nascer, tentar que os dentes nasçam, tentar que o bebé durma. Ouvir a filha mais velha a dizer que está aborrecida e sentir-me a melhor e a pior mãe do mundo em várias fracções de segundo.
Olhem para mim tão completa, tão de bem com o universo cósmico, paralelo e afins.
Cai a noite e deposito-os nas suas camas. Conclúo que amo muito os meus filhos quando eles dormem.
Depois acho que a noite é minha e planeio ler, ver filmes, notícias sobre o gajo que viola empregadas de hotel, séries, dar a mão ao Hugo.
Olhem para mim ainda jovem, ainda culta e informada.
Às 10 da noite preparo-me para ser a Anacê independente e maravilhosa. Meto o filme na televisão, inspiro profundamente o ar que rodeia uma gaja estupidamente interessante e... Adormeço.
À 1 da matina acorda o bebé, pois que chora, pois que está incomodado com a merda dos dentes que rompem sem romperem, que massacram.
Acalma-se o bebé. Anacê inspira, roda e rebola pela cama abaixo e acima e não consegue adormecer.
Passados anos, lá caio num sono profundo e volto a acordar, pois que a filha mais velha tosse, pois que não serena, pois que precisa de se assoar e de pôr soro e de tossir até cuspir a alma (a dela e a nossa).
E agora é altura de parar de me descrever a mim e aos meus dias e noites. Corro o risco de ficar deprimida.
Grandes diálogos: O Apartamento
Há 3 semanas
2 comentários:
Realmente...podem inventar...muita coisa no mundo...podem dizer que é dificil trabalhar em más condições de trabalho...podem dizer que é muito dificil trabalhar em isto ou aquilo...mas eu que ainda não sou pai...mas adoraria...quero aqui dizer que não existe situação mais dificil...mais complexa...mas ao mesmo tempo mais ternurenta e gratificante...como o papel de MÃE...parabéns...pelo teu desempenho...pelo teu amor...pela tua dedicação...e se existem post que me sensibilizam...e nunca me deixam aborrecidos...são estes que demonstram o que é o amor...Um beijo enorme...
Anacê, um dia os teus pequenos filhos vão olhar para ti, já sábia e de cabelos brancos e vão ver o exemplo que têm que seguir e dar graças pela mãe que têm, que esteve sempre ali!
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