Com o advento do telemóvel, meter os palitos a alguém ficou bem mais fácil.
Antigamente, se alguém saía do trabalho, ficava incontactável e facilmente catado, assim que os colegas atendiam o telefone fixo, amarelo mostarda com grandes teclas brancas, e diziam que a pessoa em questão não estava no seu estaminé, a suspeita confirmava-se.
A desculpa de estar em casa de um amigo era difícil de gerir, pois o amigo teria que improvisar uma ida à casa de banho do empalitador, ou outra desculpa igualmente rasca quando o telefone fixo tocasse.
Se alguém dizia que tinha que ficar a trabalhar até mais tarde, era bom que a queca traidora fosse ali mesmo, sobre as gavetas de arquivo, ou a secretária desengonçada.
Estar sempre contactável, poder dizer que se está no trabalho, ou nas compras, ou a fazer jogging, quando na realidade se está num motel de beira de estrada a pinar, é do caraças. Pode sempre invocar-se falta de rede, ou falta de bateria, para as quecas sem interrupções.
Mas, por outro lado, e como nada é perfeito neste mundo, ser-se catado tornou-se bem mais fácil. Há sempre um sms esquecido, registos de chamada para um número suspeito, um voice mail não apagado. Com os Smart Phones a coisa torna-se ainda mais dramática, pois os chats, os facebooks e todas as redes de comunicação, deixam rasto. Um rasto demoníaco, quase impossível de apagar e que exige do encornador uma perícia que não está ao alcance de todos.
Deus dá com uma mão e tira com a outra, é bem verdade.
Grandes diálogos: O Apartamento
Há 1 mês
5 comentários:
Delicioso!
Tu animas os meus dias com a tua escrita!
a despropósito do texto, mas a propósito do portugal no coração, que vi por acaso: a partir de agora sempre que a estiver a ler vai ser impossível dissociar o que leio da pessoa que escreve!:)
Empalita-se muita mais e é-se muito mais catado. É a sociedade do conhecimento no seu expoente absoluto :)
Ana, pelas alminhas, apaga-me o comentário anterior, em que escrevi 'muita'. Obrigada.
hahahahah, Cê Maria...
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