À noite morre-se mais devagar, todas as dores se reproduzem como ecos no silêncio e olhamos os que dormem em sossego com uma inveja desmedida.
À noite o pouco barulho ensurdece-nos e propaga-se em ondas sucessivas no nosso corpo doente.
À noite tudo é nosso, nada é dividido, ninguém nos ajuda a suportar o peso da doença.
À noite chora-se baixinho para não perturbar quem não chora.
À noite sofre-se sem alguém que nos conforte.
À noite tudo assume a proporção de fim mesmo quando o final está longe.
Amanhece finalmente e caímos num sono profundo e reconfortante, longe do escuro que assusta. Podemos entregar-nos nos braços do conforto e fechar os olhos por um instante apenas, pois sabemos que ainda falta muito para voltar a anoitecer...
Penso que quem já esteve doente numa cama de hospital (graças a Deus nunca foi o meu caso), ou quem sofre de privação de sono sabe do que falo.
Grandes diálogos: O Apartamento
Há 3 semanas
17 comentários:
A noite sentimos o quão pequenos e fortes conseguimos ser. Já passei algumas noites no hospital, e sei TÃO bem o que se sente e vive!
Coisa triste Ana. Morrer no hospital e de noite, muitas vezes só. Aliás as noites passadas nos hospitais, são sempre muito piores que os dias. Por tudo. Sei de alguém que passou parte da noite, para ter uma criança, o seu primeiro parto. Foi horrível, porta do quarto fechada. Agora, deixe-nos descansar, isso é mesmo assim, tem de ter dores, disseram-lhe.Que sensação de abandono, quando mais se precisava de alguém por perto.A pessoa ia tendo a criança sozinha.
Only Words já percebi que passaste uns maus bocados em termos de saúde. Espero que esteja tudo resolvido. E certamente esse sufoco fez-te crescer a muitos níveis. Bjs
Mariinha à noite tudo se intensifica. Essa história da tua conhecida é assustadora...
A noite, ainda continua a assustar...
Eu acredito que muitas pessoas hospitalizadas morrem à noite porque é mais fácil fazê-lo longe de quem os ama. Por vezes, somos nós que impedimos os que amamos de partir.
Mas não é preciso estar doente, nem hospitalizado para me identificar com o teu post. Não estaremos nós muitas vezes doentes da Alma a chorar baixinho?
Eu sei do que falas... Nem foi na cama do hospital, que felizmente estive lá poucos dias, foi na minha cama, na minha almofada, com os cheiros que me são familiares...
Nunca estive doente e durmo sempre muito bem!! Contudo, as noites são para mim sinónimo de trabalho e aí posso acrescentar uma coisa: à noite o tempo esquece que tem de correr como de dia e parece que dorme profundamente.
foi (é) uma das minhas agonias: saber que o meu pai morreu de noite, sózinho numa cama de hospital...
:'o(
Sim, curiosamente já passei por algo parecido... E terrível mesmo é estar doente sozinho. Olha, é dos poucos momentos em que penso "quem me mandou a mim ser "moderna" e não ter casado?" ;-)
PP Fantasma a noite traz à tona tudo o que se esconde durante o dia...
Blue C é verdade que há muita coisa que se sente à noite, a saudade adenssa-se, a mágoa, a solidão...
L pelo menos pudeste ter os teus cheiros familiares por perto...
Miguel nem mais. Penso que isto se aplica a tudo. Daí a frase à noite morre-se mais devagar...
InêsN há coisas que nos vão marcar para sempre e que são muito dificeis de esquecer...
Beijinho para ti.
Precis também há pessoas casadas que mais valia estarem sozinhas. Pois a outra parte revela-se não só na saúde, como na doença. E muitas vezes foge...
sem duvida...custa tanto ... é um sentimento de abandono imenso, por mais k de vez em quando um enfermeiro va saber de nos...À nossa volta existe uma nuvem escura.
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