segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Do alto da minha (in)sapiência

Se há coisa gira nisto de ser mãe, ou pai, é podermos debitar conselhos e vermos os olhinhos ingénuos deles abrirem na potência máxima, enquanto escutam as palavras (para eles) sábias da mãe, ou do pai.
Nunca achei saber grande coisa sobre a vida, ou sobre o que quer que fosse, pois sempre entendi que a minha vida não é a vida de mais ninguém. É só a minha vida, os meus problemas, as minhas buscas e concretizações, que não são necessariamente as dos outros.
Mas para vocês, filhotes, aqui vai uma reflexão:
Construam sempre uma história com o vosso parceiro, antes de decidirem ser pais. Viagem, criem memórias a dois, façam questão de escrever umas páginas sem mais personagens além de vocês. Só assim aguentarão a sucessão de tarefas, de obrigações, de pequenas rotinas, de submersão que virão com os filhos.
Só assim conseguirão continuar a remar com o vosso parceiro, a um ritmo sereno, pois já sabem como foram antes deles e é precisamente isso que sabem que voltará passado um tempo.
Segurem-se à história que fizeram lá atrás e esperem por ela, quando o romantismo não surgir todos os dias por cansaço, quando não houver tempo, nem força para namorar, pois que não há ajudas, quando a coisa estiver tão romântica, como uma tigela de canja e umas pantufas, vocês poderão sorrir e recordar o que já foram. Poderão dar a mão ao vosso parceiro, com a certeza de que são mais do que isso.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Agora a sério

Tenho tido minutos de puro deleite. Bem sei que são apenas minutos, mas mesmo assim, adoro quando os meus filhos estão sentados a brincar juntos na areia. O António põe e tira conchas do balde cerca de 348716 vezes por minuto, depois leva pedaços de areia à boca e saboreia, enquanto a irmã tenta limpar-lhe as mãos.
Esses breves momentos, em que tudo parece encaixar no lugar e em que mais ninguém quer estar noutro lugar qualquer, são absolutamente perfeitos.

De férias

Na teoria, porque na prática vim apenas ficar cansada num lugar diferente.
Mas não posso realmente queixar-me das dores no lombo e na cabeça e nos pés e nos braços, pois o facto é que estou a cansar-me no Algarve, onde não chove, venta apenas um bocadinho e há bué malta a falar estrangeiro.
Outro dia, aqui na piscina do pedaço, vi uma mãe de 3 putos insuportáveis, a espalhar creme protector na cara do marido, no nariz, no pescoço e nos bracinhos, como se ele fosse também uma criança indefesa, que não dominasse a ciência de espalhar protector em zonas acessíveis à sua própria mão.
Pensei para mim, que há mulheres do caraças e donas de uma maternidade que brota infinitamente do seu interior.
Se o Hugo me pedisse para lhe espalhar protector na carinha, depois de uma sessão de espalhar creme aos putos, que gemem e reclamam e fogem, o mais provável seria atirar-lhe com o frasco de creme ao trombil.
E pronto, agora vou voltar a ser fofinha.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Nos balneários, parte não sei quantas

Cada dia nos balneários da natação da Alice, é um dia de novidade.
Ontem, um bando de velhotas todas nuas em amena cavaqueira.
Terão vindo da hidroginástica, onde verteram pequenas pingas de chichi nas águas onde a minha filha mergulhou? Terão vindo de uma sessão de grupo no banho turco? Terão vindo de uma aula de musculação do glúteo? Não faço a mínima ideia, mas ainda estou a tremer com o susto e a sofrer de stress pós-traumático.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Pessoas que não carpe diem nem um bocadinho de nada

Existem pessoas que, com um dia de sol absolutamente perfeito, insistem em pensar que pode ficar cinzento.
Existem pessoas que, com uma vida boa como tudo, insistem em travar naquele pequeno calhau pelo caminho e tropeçar em modo non-stop, gritando que dói e que é um calhau maldoso e que não deveria estar ali. Pessoas que não sabem contornar o pequeno obstáculo, com medo do caminho à sua frente e para ali ficam, a tropeçar vezes sem conta no mesmo calhau, porque já não sabem o que é a vida sem o queixume pelos pequenos calhaus.
Existem pessoas que, com os dias inteiros pela frente, gemem por aquele pedaço de futuro que não desejam, mesmo que ainda não tenha acontecido.
Existem pessoas que, em frente de um jardim florido, reparam naquela erva daninha que cresceu ao lado de uma das flores e matutam nela horas infindas, esquecendo, assim, de gozar o momento.
Existem pessoas que não sabem afastar-se, para melhor apreciarem a pintura e ficam às cabeçadas num pequeno detalhe de merda que não conseguem entender, precisamente porque não se afastam apenas uns passos.
É claro que não precisamos de andar sempre aos sorrisos e a declamar poesia, embriagados de felicidade pela vida, mas chiça, tanta miserabilidade enjoa um bocadinho muito grande.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Penduricalhos e afins

Odeio com fervor apaixonado as etiquetas gigantes nas t-shirts.
Odeio com fervor desequilibrado umas fitinhas que agora decidiram enfiar em tudo o que é t-shirt, como se fosse fundamental pendurarmos as t-shirts em cabides, ou no raio que as parta.
Odeio ter que cortar quilos de papel e de tecido, de cada vez que chego a casa com t-shirts novas, repletas de penduricalhos desnecessários.
Odeio ter comprado um pacote de cuecas na Women's Secret, todas giras (apesar de cheias de etiquetas). Chegar a casa e perceber que cada uma delas tem escrito um dia da semana.
Há coisa mais triste do que envergar uma cueca a dizer quarta-feira a um domingo?
Fora da zona de penduricalhice, mas não deixando de me enervar de forma ligeira, odeio pegar numa revista social e deparar-me com 100 páginas de mulheres, ou ex-mulheres de futebolistas. São de facto, as pessoas mais sem interesse à face do mundo da revista da cusquice. Pelo menos para mim.
E pronto.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Força Hipnótica

Não se deixem levar pelas forças do mal. Sejam fortes e resistam até ao fim. Não colaborem com a malta que nos quer deixar apenas em cuecas amareladas e meias esburacadas.
Hoje, durante a entrevista da Judite Sousa ao nosso Ministro das Finanças, percebi finalmente porque é que não há revoltas na rua e fogo e pedras atiradas ao governo e incendiários enlouquecidos e homens bomba.
O homem hipnotiza com a voz.
Tenham muito cuidado. Quando o nosso Ministro estiver a falar sobre as próximas medidas que tomará para nos deixar em pelota, procedam à introdução de tampões de silicone no orifício auricular. Se não tiverem poder de compra para os tampões, deixem o material ceroso invadir o tímpano.
Só assim, a vossa força permanecerá intacta e não se deixarão levar pela sonolência- bloqueadora-de-raciocínio que a voz do homem produz.
Desde a voz do Xanana Gusmão que um homem não me deixava assim.

Ser a Tua Mãe

Enquanto bebes o teu leite com chocolate e trincas os mini-queijinhos flamengos que adoras, olho-te e deixo que a minha admiração transborde.
Gostas do Garfield e do Snoopy (tal como eu), ris-te com o Homer Simpson, apesar de não perceberes nada do que ele diz e eu olho-te e deixo que a minha admiração se entorne pelo que resta de mim inteira.
Tens dois dentes de leite que já abanam das suas frageis estruturas e eu sinto já saudades dos teus pequenos dentes cor de arroz, que sempre definiram o teu riso. Ver-te com um sorriso de dentes crescidos, vai deixar-me triste e contente ao mesmo tempo, como se ficar triste e contente em simultâneo, fosse a nossa melhor definição.
Olho-te com o teu irmão, na praia, no teu quarto, dentro da pequena tenda que vos comprei e adoro a forma como o apertas e a paciência infinita que tens com as birras dele (é claro que nem sempre tens paciência, mas quando tens compensa tudo).
Olho-te com os teus livros de dinossauros, com os teus óculos escuros do Winnie the Pooh. Olho-te na natação, nas tuas pequenas conquistas e coragens e sinto-me afogada na imensidão que é isto de ser a tua mãe.
Como é que eu sou a tua mãe? Eu, uma pessoa desajeitada, tímida, que, em tantos aspectos, ainda se sente mais filha do que mãe.
Como é que eu sou a tua mãe, Alice?
Ontem disseste-me que eu e o pai te escolhemos antes de teres nascido e eu tenho que te dizer que, ainda que tivessemos podido escolher como serias, jamais teriamos sonhado com tanto.
Não imagino a minha vida sem a tua vida dentro.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Evil Beach

Esta semana tenho ido sozinha para a praia do Guincho com os miúdos.
Sempre achei que não seria espiritual, nem fisicamente forte para empreender tal tarefa solitária, mas recompus-me, dei vários estalos consecutivos em mim própria, proferi insultos na direcção da minha cobarde e maricas pessoa e marchei para a praia do ciclone, a fim de encher os pulmões das crias com ar do mar.
Afinal de contas, falamos em ir à praia e não de uma prova de montanhismo.
Mas hoje, agachados na trincheira de um Pára-Vento, com o António a trepar por mim acima e a ganir o tempo inteiro, enquanto a Alice sacudia a toalha negligentemente para cima de nós. Hoje, enquanto trepava a duna de regresso ao carro com o António ao lombo e o saco com as toalhas no ombro. Hoje, enquanto tentava chegar ao mar, entre os gritos birrentos do meu filho e os gritos de excitação da minha filha, só para ser acometida de dores reumáticas-de-contacto-com-água-do-guincho. Hoje cheguei, enfim, ao meu limite. O limite da duna e do vento desta praia temperamental.
Eu sei que há mais praias nesta terra chamada linha, mas eu sou uma gaja teimosa e esperançosa e como vivo a 7 (não 5, nem 10) a 7 minutos do Guincho, insisto em trepar a duna, entricheirar-me e queixar-me depois.
Agora vou ali ganir de dores nas costas e suspirar pelos tempos em que conseguia estar numa praia, deitada a ler e a ouvir as gaivotas ao longe e já volto.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

As Bolas

Não há nada que se compare ao sabor de uma bola de berlim degustada no areal :)
É um dos pequenos grandes prazeres de uma vida. Os gritos dos putos ao longe, os gritos dos meus putos de perto e o açúcar espalhado em redor dos lábios dos três.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Em Memória da Memória

Dizem que, quando as pessoas morrem, as divinizamos. Ficam perfeitas. Todas as curvas apertadas de carácter se esbatem, todos os erros cometidos em vida se amenizam, todas as atrocidades levadas a cabo se relativizam e aquela pessoa, relativamente intragável em vida, é agora santa.
Dizem que, quando as pessoas morrem, se transformam numa espécie de livro, onde só os capítulos com as passagens bonitas permanecem e são lidos com solenidade.
Eu cá acho que não é nada disso.
Acho que, quando alguém importante parte dos nossos dias, as coisas más permanecem sim. Mas o mais incrível, é que começamos a sentir saudades dessas coisas que tanto nos aborreciam.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Fecuntata Est Ana

Adoro quando me tratam como uma retardada mental (sem ofensa para os retardados mentais).
Desde o médico na urgência que insiste comigo que a dermatite que se instalou nas minhas palpebras, se deve a um produto que eu usei, mesmo depois de lhe ter dito 345 vezes que nem sequer me maquilho, nem usei nada de novo nos últimos 10 anos. Ele faz uma expressão de "falo com uma retardada mental" e contradiz-me com expressão de enfado. Agarra-se àquela merda e insiste até à morte, ignorando o que lhe digo. Talvez porque dê demasiado trabalho arranjar outra justificação para a bosta da dermatite, talvez porque me julgue mesmo uma pessoa com falta de oxigenação cerebral. Eu acabo por dizer que tudo bem, se ele diz que é da maquilhagem, eu maquilhei-me sim, com umas sombras da loja do chinês. Talvez assim ele se sinta menos frustrado e eu menos tonta.
Receita-me um creme fantástico e uns anti-histamínicos e deixa a retardada sair.
Venho a descobrir mais tarde, com uma médica a sério, que me tinha receitado um creme altamente alergéneo, por isso eu não melhorava.
À conta de não melhorar, não posso arranjar as sobrancelhas, esse sim, um dos meus únicos vícios de estética.
Também adoro quando me falam sobre trabalho, como se eu fosse a tipa mais burra à face da crosta terrestre. Abrem muito os olhos para mim e gritam com voz cavernosa na direcção desta débil de espírito. Adoro que me humilhem e que me façam sentir pouco digna do salário milionário que me pagam.
É mesmo assim que se motivam equipas. Qualquer psicólogo acabado de formar o confirma.
Venham mais vinte, que eu deliro. Sentir-me rebaixada é do melhorzinho que existe. Faz tão bem à pele, que lhe confere um tom rubro, descamado e vibrante.
Só não fiquem em choque se, um dia mais tarde, esta débil de espírito, num acesso de oxigenação súbita da massa grey, vos mandar fecundarem-se lentamente e com dor, sim?

sábado, 6 de agosto de 2011

Steven, o meu herói

No tempo do jogo do elástico, dos estalinhos de carnaval. No tempo em que andava de bicicleta à volta de um quarteirão, onde hoje em dia não deixaria andar os meus filhos à vontade. No tempo em que ia e vinha do colégio a pé. No tempo em que ouvia Lp's do Jason Donovan e da Belinda Carlisle. No tempo em que os amigos eram irmãos e os irmãos eram amigos, havia filmes de aventuras.
Não era preciso uns óculos 3D, nem bilhetes que custassem o rabo e as calças. Não era preciso pipocas, nem coca-colas. Não era preciso mais do que um bom filme de aventuras e, meu Deus, se havia bons filmes de aventuras.
Todos os meus preferidos tinham um nome. Ora fosse o produtor, ou realizador, não importava. Se tivesse lá escrito Steven Spielberg, seria certamente inesquecível.
No topo da lista dos inesquecíveis, está o Goonies. Devo tê-lo visto mais de 15 vezes e continuo a achar-lhe o mesmo fascínio que achei aos 10 anos.
Não há quem melhor tenha sabido entrar no meu imaginário, como este homem. Obrigada Estêvão por me teres feito sonhar, rir, chorar, apaixonar dezenas e dezenas de vezes.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Face-maçada

Isto do facebook é muito maçador.
Senão, vejamos: Temos uma relação com alguém no mundo real e vão a correr amigar-nos na rede social, pois se a coisa não se der virtualmente, parece mal, parece que não nos conhecemos de verdade. Essa relação real é quebrada, por um motivo, ou por outro e lá temos nós que ir desamigar no livro-da-face, se não a coisa parece que não aconteceu.
Gerir a realidade real e a realidade virtual, pode ser de facto tremendamente maçador.
Tão maçador, que só de escrever sobre isso bocejei.

A propósito da Frida Kahlo

Não aprecio particularmente quadros que a minha filha pequena conseguisse pintar.
Gosto de sentir que nem num milhão de anos, conseguiria pintar uma merda daquelas. Isso sim, faz-me ficar especada em frente de uma qualquer manifestação de engenho alheio.
Ah, a arte é para fazer pensar, vamos pôr um par de luvas e um rolo de papel higiénico em cima de um banco e dizer que é arte. A malta vai adorar, vai reflectir sobre a conjuntura da reciclagem do papel e a simbologia da luva no pensamento contemporâneo. Não é para mim. Desculpem lá, mas aqui a grosseira e ligeiramente labrega pessoa, gosta de outro tipo de cenas.
A Frida Khalo, mesmo antes de saber alguma coisa sobre o significado tão pessoal das suas pinturas, sempre me meteu um bocadinho de medo. A sua imagem dura, os seus quadros agressivos, aquilo não seria para pendurar na parede de uma casa minha, pois era a história dela. Sempre pintou mais para si, do que para os outros.
Mas este quadro, ontem em particular, disse-me muito. Apesar de não querer dizer nada daquilo que senti ao olhá-lo, achei que pertencia ao meu momento.
Estavam ali as duas Anas e uma rompia com a outra. Uma ajudava a outra a superar-se a si própria. Uma esvaziava-se e outra se enchia.
Um bocadinho esquizofrénico, sim, mas ontem a arte, esta arte, fez um bocadinho parte do meu dia e eu tive que me render às evidências:
A arte pode ir além da técnica, sim. A arte pode fazer-nos pensar.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Comodismo

É mais fácil ficar numa situação que nos magoa, do que sair da situação que nos magoa.
Juro.
Sinto-me estupidamente cobarde, agarrada a coisas que não importam, mas que eu digo que importam, só para me convencer que estou a agir da forma certa.
Queria ser uma gaja cheia de coragem, mas limito-me a encher o depósito da paciência, que se tem revelado com uma capacidade extraordinária.
O problema é que fico sem paciência para as coisas que importam de verdade.

Atenção, que não me refiro a nada de muito importante e isso é o que mais me irrita.