quinta-feira, 17 de junho de 2010

Raquel

Conheci a Raquel numa altura um bocadinho louca da minha vida, fomos colegas de turma e cúmplices por pouco tempo no espaço do calendário, mas por uma eternidade no espaço aqui dentro de nós.
Fã incondicional de Robert Smith, vestia-se de preto, usava doc martens e era viciada em coca-cola. Juntamente com a expressão pensativa vinha o sorriso por acréscimo, mas um sorriso que chegava tarde, quando a empatia brotava das nossas conversas e a troca de ideias e paixões se instalara já irremediavelmente.
Era muito sensível, mas uma sensibilidade que fervilhava por dentro. Com ela tinhamos que nos dar ao trabalho de retirar as várias camadas que a protegiam. Como também sou um bocadinho assim, não tive pressa de esperar e ir passando as folhas do seu livro, uma a uma.
Afastámo-nos porque a vida nos afasta tantas vezes das pessoas que nos dizem tanto, mas nunca deixei de pensar naquela rapariga morena, cheia de vida por dentro das suas palavras e de cada vez que ouvia Cure lembrava-me como se fosse ontem e sorria de saudade.
Passados uns anos recebi um telefonema a pedir-me um favor e assim foi, ela veio ter comigo e senti-a um bocadinho perdida.
Desde então perdi-lhe o rasto. Recusei-me a apagar o telefone de casa dos seus pais e passou de uma agenda de papel para o meu telemóvel. Era daqueles números que não conseguia apagar da agenda, por muitas limpezas que fizesse à lista de contactos.
Estes caminhos da internet têm muitas coisas más, mas têm também a magia de nos religar a amigos e a Raquel veio cair de novo no meu pequeno caminho.
Apaixonou-se por um holandês, fez a sua trouxa e rumou com ele de carro para o país das socas, moinhos e bicicletas onde está há 10 anos. Com uma força de vontade arrepiante, aprendeu aquela língua que não lembra a ninguém e terminou o seu curso de psicologia em holandês...
A Raquel é minha amiga e gosto de ter amigos assim, porque gosto de pensar, com muito pouca humildade confesso, que todos nós temos um bocadinho os amigos que somos.

6 comentários:

PiXie disse...

Agora que já consegui controlar o choro que me provocaste, mas ainda com pele de galinha dos pés à cabeça, só te consigo dizer (porque o que senti ao ler-te é ainda tão forte que nada de jeito me sai!) que me sinto sortuda por ter alguém como Tu na minha vida! Ter-te conhecido foi algo de único e tal como disseste, não há tempo nem distância que apague memórias nem sentimentos por pessoas que nos marcaram/ marcam. É com muita ansiedade de aguardo o reencontro, que eu sei que virá para breve, entre nós!
Adoro-te!
Bjs xx

Madame Pirulitos disse...

Gostei tanto deste post. Tive dúvidas sobre comentar ou não porque o senti mesmo como uma mensagem de uma pessoa para outra, embora escrita, com o orgulho de quem quer que todos saibam desta bonita relação.

Arrepiei-me e identifiquei-me e arrepiei-me e emocionei-me.

Pelos Cure
Pela roupa sempre de preto
Pelo curso de Psicologia

...

Ana C. disse...

Raquel /Pixie hoje acordei a pensar que tinha que escrever sobre ti, o que é que se há de fazer ;)
Obrigada pelas tuas palavras.

Ana C. disse...

Madame Pirulitos ainda bem que comentaste :)

Sonhadora disse...

Ó menina Anacê, escreves tãao bem! Que maravilha! Venho todos os dias aqui te ler! adoroooo! Consegues tornar tudo tão simples e profundo indo até ao âmago das palavras, ao fim dos sentimentos e ao centro da alma. Adoro a tua escrita inteligente, intensa, bela e ao mesmo tempo simples, de uma simplicidade sincera e tangível. Maravilha que nos toca até à mais ínfima particula do ser. Obrigada pelos sentimentos que transmites e pelas emoções que nos despertas.

Ana C. disse...

Sonhadora, mas o que é isto? Queres certamente transformar-me numa Anacê convencida, vaidosa e com o ego nas alturas, vá pronto conseguiste :)
Muito obrigada por aquilo que disseste, não imaginas como as tuas palavras me souberam bem.