Gostava de poder sentir menos culpa, pois sei que, se a culpa fosse menos densa, eu viveria uma vida melhor.
Mesmo quando sei que não errei, ela insiste em chegar nos momentos mais sós. Quando me precisava só para mim, ela vem e diz-me que não devo, que há quem me precise, que não tenho esse direito meu, de me ter só para mim.
Tento virar-lhe costas, viver uma vida de plena resolução e firmeza, mas as pernas tremem. Penso duas, três vezes e a segurança foge, com a cobardia dos fracos.
Encho-me de teorias espantosas. Teorias que põem a mulher no mesmo patamar do homem, do pai, do marido e por breves minutos sinto o poder retomar ao meu corpo e encher-me o pensamento de mim e da força que quero para mim todos os dias. Mas ela chega de novo, por muito que a empurre, que a ignore, que a renegue. Ela chega sempre para me dizer em surdina que não tenho esse direito.
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6 comentários:
"Encho-me de teorias espantosas. Teorias que põem a mulher no mesmo patamar do homem, do pai, do marido..."
Não é teoria espantosa nenhuma, Cê. Abracinho!
Estava a ser irónica...
A realidade é que a culpa é mais património feminino do que masculino.
Tens direito sim! Larga essa ideia - é muito século XX!
;)
Acho que a culpa feminina que vai subsistindo é a culpa materna, essa parece à prova do tempo! As outras - conjugais, filiais, fraternais, sexuais, laborais, etceterais - acho que têm os dias contados (pelo menos as gerações contadas).
E sim, culpa é coisa de mulher. Uma merda. Mas uma merda a ser combatida com paixão e compromisso.
Eu sou uma mulher do século XXI, em tudo, menos no que respeita à culpa. Sim, principalmente materna.
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