Deste-me tu.
Acabei de ser operada. E o que mais me bateu hoje não foi o regresso ao hospital, nem o ritual de vestir a bata transparente, tirar as jóias, enfiar uns plásticos nos pés e uma touca na cabeça, nem sequer foi ouvir o médico dizer-me que se calhar o que tenho (tinha) no pescoço é mesmo um quisto e não um gânglio. O que mais me bateu hoje foi o facto de ter lido o teu livro antes e depois da cirurgia. Acompanhou-me nesta viagem, na mente, na pele, na maneira de me emocionar com o mundo -mesmo este meu mundo hospitalar. Transportou-me todo o dia, desde o momento em que o abri no metro até acabar de o ler na cafetaria do hospital, rodeada de batas brancas e verdes e pés com socas (acho que são Crocs), já com uma nova cicatriz e novas dores, e um sumo de laranja à frente. A satisfação de sentir algo enorme, maior do que eu, é mil vezes superior à de compreender um conceito metafísico importante ou de fazer uma fantástica descoberta racional. Raramente me tinha sentido assim tão inundada de emoções, e, sobretudo, nunca me lembro de ter gostado.
E devo isso tudo ao teu livro, que escreveste com 25 anos e que pela tua amizade me chegou às mãos na altura certa. E tenho a certeza de que também o li na altura certa. Hoje. Obrigada por estes momentos de profundo sentir, e pelas viagens por Paris, Veneza e Roma. Também as conheci por esta ordem. E no fim, o regresso a Paris e a vontade de regressar a Lisboa. Sinto-me estranhamente em casa.
Hei de reler-te as vezes necessárias para que se aplaque em mim o vazio imenso que sinto, ainda com tão pouco tempo de separação.
Dizem que não importa há quanto tempo sentimos, mas a intensidade com que o fazemos e eu sempre soube que eramos almas antigas, daquelas que se aproximam por pura intuição, sem as certezas tradicionais dos cautelosos. Tu tinhas que te cruzar no meu caminho, para que eu nele entrasse descaradamente, mesmo prevendo a possibilidade de perder-te.
Adoro-te e não o digo apenas agora, disse-o sempre que consegui encaixar a palavra.
Adoro-te.
Da tua amiga
Nicoleta Sparks ;)
Grandes diálogos: O Apartamento
Há 2 semanas
8 comentários:
Consegui imaginar tudo o que estavas a sentir, obrigada pela partilha e as melhoras :)
beijinho,
http://saladosilenciocorderosa.blogspot.pt/
Nicoleta Sparks é <3 <3 puro LOVE.
E adorei ter tido a oportunidade de ver de perto o que vocês tinham. Senti desde o começo que vocês estavam destinadas a encontrar-se por um qualquer motivo.
Consola-me que ela tenha visto o teu livro publicado. Tive tanto medo que não fosse a tempo. Também lhe queria ter dado "mais boas notícias este ano", não consegui - mas hei-de me lembrar dela com amor e saudade quando a próxima boa notícia chegar.
Não me vou esquecer nunca da Silvine!!!, a menina das pulseiras e dos anéis em todos os dedos, atenciosa, tão brilhante, tão risonha, tão lúcida. Que não tenha levado nenhuma dúvida de que era intensamente amada por tanta gente, como vimos nos últimos tempos.
Viaja em paz, moça bonita.
<3 <3 <3 <3
Beijinhos
E é isto, comoção sentida, a cada mensagem. O poder das suas palavras, a força transcrita em cada linha. É de uma tristeza sem tamanho.
E incrível como a Silvina nos tocou a todos, como mesmo sem lhe conhecermos o rosto ou termos ouvido a sua voz, a carregamos no coração e sentimos a sua perda.
Esse vazio só pode ser preenchido pelas boas recordações que a Silvina deixou!
Estou aqui sem saber o que escrever...
Esta partida deixa-me mais uma vez revoltada com a vida....
Não sei lidar muito bem com estes sentimentos
E é incrível como conseguimos desenvolver este carinho por alguém que nunca conhecemos de pele e osso... apenas pelo que a sua alma nos transmitia...
E porque foste tu que me a "apresentas-te"... obrigada...
Quando estávamos a fazer as malas da Rita para voltar para Portugal e a colocar os vários livros que ela queria que a acompanhassem, insistiu várias vezes que não nos esquecêssemos do teu. Acho que viajou com ela sempre perto, para te sentir presente.
Beijinho grande, Ana.
Foste muito importante para ela.
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