os livros não penetram no nosso espírito de forma idêntica.
Enquanto eu posso ouvir Bruno Mars e deixar-me envolver por uma alegria pateta e sem limites, aos ouvidos de outra pessoa qualquer, o mesmo cantor pode provocar crises de hemorroidal e instintos assassinos em simultâneo.
Com os livros passa-se exactamente o mesmo.
Se há pessoas que choram e trocam promessas de amor com Saramago, outras há que jorram rios de baba, provocados pelo sono.
Se há pessoas a quem as letras de um determinado escritor provocam uma imensidão de significados, outras há que as acham pouco cativantes e nenhum interruptor é aceso.
Nenhuma das duas sensações é certa, ou errada, superior, ou inferior. É apenas isso, uma sensação provocada pelas palavras que outra pessoa escreveu.
Até os livros mais consensuais hão de ter algures alguém que não os achou magistrais, talvez porque não os leu na altura certa, talvez porque simplesmente nunca será tocado por aquelas palavras, ponto final.
O que importa é o que um certo livro nos disse, numa determinada altura da nossa vida e isso não tem que ser igual ao que a nossa melhor amiga sentiu, ou ao que o génio da crítica pensou. A relação que temos com um livro é demasiado íntima para ser generalizada.
Há quem faça da crítica literária profissão e há quem sonhe com isso e apelide a sua, suposta e idealmente, humilde opinião de "review", imaginando-se na New Yorker, ou coisa que o valha, mas a realidade é que nada disto deveria importar grande coisa, pois nada disto é universal. Varia de olhos para olhos, de coração para coração, de leitor para leitor e é essa a magia dos livros.
Grandes diálogos: O Apartamento
Há 1 mês
11 comentários:
Pequeno exemplo: toda a gente que leu o Cem anos de solidão amou, eu não gostei nada, estou a gostar muito mais d'O amor nos tempos de cólera que estou a ler agora. Já deixei um Saramago a meio porque odiei aquilo, ainda tentei mas não dava mesmo, um horror.
Por outro lado, li apenas um livro do Záfon e estou capaz de me casar com o homem (tenho outro para ler mas estou a guardá-lo para uma ocasião em que o possa "saborear" com calma, e ainda tenho que arranjar O Prisioneiro do Céu). O mesmo se passou com os livros do Stieg Larsson e a Trilogia Millenium, viciei naquilo de tal forma que parecia uma agarrada.
É como tudo, são gostos :)
Ana Cê e como há livros que são consensuais e que não dizem nada a tantas pessoas... sucedeu-me com os livros do Hemingway...
Já o Bruno Mars, para mim é um tanto tortura auditiva... mas isso sou eu que tenho a mania que tenho gostos musicais muito específicos.
Mas as críticas não pretendem ser universais, Casaca. São assinadas pelos críticos e, com o tempo, podem ser uma grande ferramenta.
Discordando ou concordando com eles,valorizo muitíssimo a profissão de crítico seja do que for. Pelo menos as coisas que escolho ler são são bem embasadas, escrita por gente de valor.
Há até críticos de quem quase sempre discordo dos gostos mas que continuam a ensinar-me imensas coisas, como o João Lopes, por exemplo (de cinema. Um senhor).
Pronto, e também há os bois.
*com o tempo, podem ser uma grande ferramenta - quando vamos descobrindo aqueles com gostos parecidos com os nossos (uma Sónia Estrela) ou que tenham uma maneira de ver as coisas que achamos engraçada. Gente que nos ensina qualquer coisa.
Isto dos livros é engraçado. Nunca fui de ir atrás dos gostos dos outros, muito pelo contrário até, mas desde que a Sónia e a Melissa entraram na minha vida que grande parte das minhas escolhas vai atrás do que elas me aconselham. É o que diz a Mel sobre descobrir pessoas com gostos semelhantes aos nossos! Ainda que não retiremos o mesmo de cada uma das histórias, porque os livros são quase uma questão de pele, há quase sempre pontos consensuais. Por exemplo, li John Green (The Fault in our stars) por tua causa e continua a ser um dos melhores livros que li recentemente!
Estou bem servida de criticas e gurus literárias!!
;)
Só acrescento que, mesmo para os mesmos olhos, o mesmo livro pode ter valor diferente consoante as alturas. Por exemplo, estou à espera dos 60 anos para reler o Comboio Nocturno para Lisboa e não ganir de aborrecimento, como aconteceu aos 33.
O mais estúpido é que eu gosto de ouvir os críticos de cinema falar e gosto de ler certas críticas literárias. O que acontece é que quase nunca ligo puto ao que eles dizem :)
E ainda não encontrei uma amiga literária a 100%.
Olá. É só para dizer que comprei o seu livro hoje,ainda não tinha tido oportunidade (€) para o comprar,mas hoje foi o dia!!! Já sigo o seu blog à muito tempo e tenho uma curiosidade enorme para ler o livro. Depois dou noticias,mas tenho praticamente a certeza que vou adorar. :) (o meu comentário não tem nada a ver com o post,nem é preciso publica-lo :) )
Só hoje consegui ler este post... que tanto vai de encontro ao que eu acho dos livros... Já dizia o Záfon, "os livros são espelhos: só se vê neles o que as pessoas têm dentro." não querendo isto dizer que a pessoa seja melhor ou pior que a outra, mas sim o que a vida lhe mostrou e deu a conhecer até à data, daí ser tão determinantes a altura em que lemos cada livro!:) E mantenho a minha teoria que por isso mesmo são os livros que nos escolhem e nós a eles!;)
menina, que bom comentário, não imagino um único motivo para não querê-lo aqui, bem presente :)
Luísa, a frase do Zafon resume tudo...
Mesmo o mesmo livro, lido em alturas diferentes da vida, pode ter "efeitos" diferentes, despertar outras sensações.
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