sexta-feira, 29 de novembro de 2013

a minha terra

A luz entra pela direita e aquece-me o rosto enclausurado na mesma expressão. Entra enviesada, tocando ao de leve as palavras frias que não profiro e iluminando aquele esgar de dor que não chego a materializar.
Quero que seja sempre assim, a luz, que chegue quando eu não der por ela e que se faça sentir apenas por sugestão na minha pele. Pensando melhor, quero que seja também assim a morte.
Do outro lado da janela, além da claridade morna que me recorda que existo, anuncia-se o casario branco e abandonado, onde já não moram vozes, nem se entoam canções na direcção do vento. De onde me encontro, vejo o vermelho gasto das telhas e pronuncio em voz alta os nomes das pessoas que ali viviam, deixando que a fina e acutilante dor da saudade me lembre que ainda permaneço ali.
O Crisóstomo, a Jacinta, o velho Dário das pernas mancas e a Dulce, a doce Dulce dos cinco filhos, que os contava a cada manhã, conferindo-os, para nunca lhes perder a conta, nem o feitio.
Já eu, não preciso de contá-los, pois perdê-los de mim é uma impossibilidade emocional. Trago-os no meio do vento e da luz desta aldeia onde permaneço. Caminho-os, quando, de pés doridos e frios, insisto em percorrer as ruas empedradas e vazias, parando em cada porta antiga que os tinha e chamando por eles, como se assim pudessem retornar à nossa terra e deixar de a pensar no singular, abandonada da vida dos outros.

5 comentários:

portuguese girl with american dreams disse...

E pronto la estas tu e deixar-me sem palavras! Adoro passar por aqui e ler o que escreves:)

Sophie Eu disse...

<3 <3 <3
Sem palavras de amor... ou outras!
<3

Ana C. disse...

Obrigada meninas. Ego inflamado no seu limite :)

Naná disse...

Hummm... que bom prenúncio!

Escrita daquela bem boa :)

Andas a habituar-nos mal, sabes?!...

Vânia Silva disse...

Ler o que escreves, dá-me anos de vida!!!