Outro dia saí no final da tarde para um passeio lúdico, o que nos últimos tempos significa sair sozinha de carro, nem que seja para ir à M24 comprar feijão frade e atum para o jantar, sendo que foi precisamente esse o caso. Enfim, saí, liguei o rádio e antes de mudar a estação, coisa que faço mesmo antes de ouvir o que está a dar, detive-me a escutar aquele tipo que respondia a umas perguntas. Detive-me porque reconheci aquela voz acelerada e meia lunática, polvilhada por dezenas de "não é?" e bafejada pela mais pura das genialidades. No preciso momento em que soube que era o Miguel Esteves Cardoso o alvo da entrevista o meu pé saiu do acelerador e a minha pressa para fazer o jantar eclipsou-se como que por magia.
Ali estava ele a responder a tudo sem filtros, mas ao mesmo tempo naquele tom de boa educação britânica que torna impossível a alguém ouvi-lo sem um sorriso de orelha a orelha.
Entre outras coisas disse que, tirando Agustina, todos os romancistas portugueses eram basicamente uma merda e disse-o como se debicasse um scone e bebericasse o seu chá pelo meio da frase.
Já tinha chegado à bomba de gasolina e em casa as coisas estavam estupidamente atrasadas, mas fiquei ali parada dentro do carro a ouvi-lo falar até ao fim, com uma sensação de pura satisfação por ter aquele tempo para mim.
Dentro do carro, estacionada na M24 eu ouvi o Miguel Esteves Cardoso e senti que os meus neurónios estavam lentamente a encontrar o caminho de volta...
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8 comentários:
O MEC é um elixir. Diz-me em que rádio o ouviste para eu ir buscar o podcast.
Gosto de ler os livros de crónicas dele.
Nuno, o Elixir foi na TSF na rubrica Pessoal e Transmissível. Vai lá ouvir e sorrir :)
Precis eu confesso que livros só os de crónicas, daqueles mais antigos que li na minha adolescência e ainda tenho guardados em local sagrado na estante. Ele foi durante muito tempo uma espécie de ídolo/jornalista para mim e penso que para muitos jovens na altura.
A menina devia conhecer a mãe dele, a Tia Hazel é uma fofuxa, diz mal de tudo e todos e sempre que privava com ela era em Inglês pq a Tia achava que era muito mais chic falar em Inglês que em Português :D a primeira vez que me falou sobre as netas tratou-as por "aquelas malucas doidas" :D adoro a Tia Hazel!
esse homem é um mister!! e é melhor ouvi-lo que ve-lo que aquela mania de sapo de estar sempre a por a lingua de fora dá-me um bocado nos nojos.
mas adoro-o, no doubt. pela coragem e pela inteligencia.
o homem é loucamente genial! sem concessões, sempre directo ao assunto!
(sem maisculas porque tenho o mainovo ao colo e escrevo só com uma mão...)
Ana
Já mais tarde, há uns anos (p'raí 2002), publicou um livro de crónicas do jornal, qualquer coisa da língua portuguesa, que vale a pena ler. Foi o meu último.
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