terça-feira, 13 de julho de 2010

MEC

Outro dia saí no final da tarde para um passeio lúdico, o que nos últimos tempos significa sair sozinha de carro, nem que seja para ir à M24 comprar feijão frade e atum para o jantar, sendo que foi precisamente esse o caso. Enfim, saí, liguei o rádio e antes de mudar a estação, coisa que faço mesmo antes de ouvir o que está a dar, detive-me a escutar aquele tipo que respondia a umas perguntas. Detive-me porque reconheci aquela voz acelerada e meia lunática, polvilhada por dezenas de "não é?" e bafejada pela mais pura das genialidades. No preciso momento em que soube que era o Miguel Esteves Cardoso o alvo da entrevista o meu pé saiu do acelerador e a minha pressa para fazer o jantar eclipsou-se como que por magia.
Ali estava ele a responder a tudo sem filtros, mas ao mesmo tempo naquele tom de boa educação britânica que torna impossível a alguém ouvi-lo sem um sorriso de orelha a orelha.
Entre outras coisas disse que, tirando Agustina, todos os romancistas portugueses eram basicamente uma merda e disse-o como se debicasse um scone e bebericasse o seu chá pelo meio da frase.
Já tinha chegado à bomba de gasolina e em casa as coisas estavam estupidamente atrasadas, mas fiquei ali parada dentro do carro a ouvi-lo falar até ao fim, com uma sensação de pura satisfação por ter aquele tempo para mim.
Dentro do carro, estacionada na M24 eu ouvi o Miguel Esteves Cardoso e senti que os meus neurónios estavam lentamente a encontrar o caminho de volta...

8 comentários:

Nuno Andrade Ferreira disse...

O MEC é um elixir. Diz-me em que rádio o ouviste para eu ir buscar o podcast.

Precis Almana disse...

Gosto de ler os livros de crónicas dele.

Ana C. disse...

Nuno, o Elixir foi na TSF na rubrica Pessoal e Transmissível. Vai lá ouvir e sorrir :)

Ana C. disse...

Precis eu confesso que livros só os de crónicas, daqueles mais antigos que li na minha adolescência e ainda tenho guardados em local sagrado na estante. Ele foi durante muito tempo uma espécie de ídolo/jornalista para mim e penso que para muitos jovens na altura.

Irina A. disse...

A menina devia conhecer a mãe dele, a Tia Hazel é uma fofuxa, diz mal de tudo e todos e sempre que privava com ela era em Inglês pq a Tia achava que era muito mais chic falar em Inglês que em Português :D a primeira vez que me falou sobre as netas tratou-as por "aquelas malucas doidas" :D adoro a Tia Hazel!

Joanissima disse...

esse homem é um mister!! e é melhor ouvi-lo que ve-lo que aquela mania de sapo de estar sempre a por a lingua de fora dá-me um bocado nos nojos.

mas adoro-o, no doubt. pela coragem e pela inteligencia.

Miguel disse...

o homem é loucamente genial! sem concessões, sempre directo ao assunto!
(sem maisculas porque tenho o mainovo ao colo e escrevo só com uma mão...)

Precis Almana disse...

Ana
Já mais tarde, há uns anos (p'raí 2002), publicou um livro de crónicas do jornal, qualquer coisa da língua portuguesa, que vale a pena ler. Foi o meu último.