quinta-feira, 11 de abril de 2013

MST

E hoje, passados não sei quantos anos sem o fazer, voltei a abrir a minha pequena pasta, onde guardo tudo aquilo que me marcou há tantos anos atrás. Crónicas, artigos de opinião, biografias, entrevistas e detenho-me num molho de páginas, rudemente rasgadas da origem e já desbotadas. Detenho-me, sabendo que não conseguirei parar até ter chegado ao final de cada uma delas.
Mais uma vez, ainda e acho que para sempre, sei que continuarei a perder-me nas palavras do Miguel Sousa Tavares:



(...)"Agora, porém, passou já um ano desde a minha última viagem e estou preso à terra e atento à chuva e à cor do rio. O meu Taj Mahal, que mandei construir para celebrar todos os regressos e encerrar todas as ausências, cresce devagar, tijolo a tijolo, como uma ampulheta medindo um tempo suspenso. No outro dia, subi até ao telhado ainda inacabado e de onde a vista alcança toda a minha vida, e sentei-me, encostado a uma chaminé. Caía uma chuva miudinha sobre a terra ressequida, um vento frio fazia abanar a copa das árvores e um céu cinzento carregado de nuvens prometia mais chuva ainda àquela terra sedenta de água e cansada de tanta luz. Um sinal de sorte e de desgraça"(...)

(...)"Queria então que alguém me explicasse que pesadelo é este que se abateu sobre nós. Que longa travessia cinzenta é esta, de dias sem luz e noites sem estrelas. Que senhor das trevas nos roubou a luz dos dias, que infinita tristeza terá apagado as estrelas do céu?
E sobre mim pousa então a mão da minha mãe. Vejo o azul intacto no seu olhar tão antigo e tão próximo, as suas mãos desenhando teatros de sombras na parede, como quando eu era pequeno, e um poema escrito para a minha impaciência:
As minhas mãos mantêm as estrelas
Seguro a minha alma para que não se quebre
A melodia que vai de flor em flor
Arranco o mar do mar e ponho-o em mim
E o bater do coração sustenta o ritmo das coisas

5 comentários:

Melissa disse...

Lindo.

Anónimo disse...

Lindo é isto:

http://www.youtube.com/watch?v=3RNMoKXulAs

e muiiiiiiiiiiiiiiiiiito mais profundo.

Ana C. disse...

Para o PMR deixar de gozar com a lindeza e profundeza do que o MST escreve, isto sim é lindo:
http://www.youtube.com/watch?v=kHvrJLtekyI

Naná disse...

Ainda bem que a arte da escrita foi geneticamente herdada. Seria uma pena não ser assim!

A. F. disse...

Há muuuuuuuitos anos, quando a minha mãe era assinante da Máxima e eu ainda vivia lá em casa, as crónicas do MST eram a primeira coisa que eu lia quando a revista chegava. Em 2003, quando o "Equador" me chegou às mãos, matei todas as saudades desses dias. Parece que este ano há novo romnace...