Ter um blogue, no sentido de possuir um espaço onde se escreve para um número potencialmente ilimitado de almas, pode levar (e muitas vezes leva) a uma erecção descontrolada do ego. Quanto mais as pessoas se convencem que um blogue é um palco, o seu palco, mais a erecção pulsa, produzindo descargas de adrenalina que auto motivam o autor a acender mais holofotes sobre a sua pessoa.
O autor do blogue faz passar a imagem que vive bem na sua própria pele, que não almeja mais do que aquilo que possui, ainda que aquilo que possui seja nada. O autor do blogue é crítico literário, fazendo perninha no goodreads, escritor, dita tendências de moda, guru das dietas, ou de outro palco qualquer. Enfim, o céu é o limite, pois no palco virtual ele pode apelidar-se do que quer que seja. Garanto-vos que haverá centenas de almas dispostas ao elogio.
Só que um blogue é apenas e só isso. Uma página em branco. Um espaço virtual onde cada um escreve o que deseja escrever. Não é muito diferente dos caderninhos perfumados que tínhamos na primária, em termos de relevância.
Uns entendem que ter um blogue não representa motivo para grande alarido. Outros entendem empolar o seu espaço, conferindo-lhe cariz de jornal de letras, ou revista de moda, provavelmente porque era esse o seu sonho profissional, não sei.
Cada um faz aquilo que quer e, nesta época de crise económica, até consigo entender a necessidade de poupar nos antidepressivos e apostar num espaço de auto masturbação elevada ao extremo. É que sempre é mais em conta.
Grandes diálogos: O Apartamento
Há 3 semanas
13 comentários:
esta tua reflexão está fantástica!
mas as pessoas - bloggers- gostam pouco de ser ver ao espelho e assobiam para o lado, como se este alerta não fosse para elas.
é o que há; cabe-nos a nós como leitores, querer ser voyeurs e assistor a estes actos masturbatórios.
Eu estou a um post de explicações gramaticais de apagar do meu reader a porra do blogue mais masturbatório e mais hipocritamente "pobrete mas alegrete" da história da blogoesfera!!
;)
Todos os blogues são actos masturbatórios. Todos sem excepção. Depois há uns com que nos identificamos mais e outros menos, nada mais que isso.
Verdade, Julieta, verdade, mas há uns que se masturbam mais do que outros. Aliás, masturbam-se tanto que chegam a convencer-se de que fazem amor de verdade.
É fácil deixares-te "fascinar" pelo número de comentários, em tempos passei por isso. Acho que me apercebi a tempo e pus travão à coisa. Mudei de espaço e identidade e agora gosto verdadeiramente de saber que tenho no máximo meia duzia de leitores. Escrevo muito para mim e gosto que assim se mantenha. No entanto tenho consciência de que se não quisesse qualquer tipo de feedback escrevia em documentos word que guardava-os no meu disco rígido.
De qualquer maneira, sei do que falas. Nalguns casos mais extremos são mesmo graves carências afectivas e necessidades brutais de chamar a atenção.
correcção: "e guardava-os" e não "que"
Eu escrevo sobre o que me apetece, quando me apetece, não vivo obcecada com comentários ou seguidores ou o que seja. Sei que há quem me leia à muito, quem ache que o meu blog é uma merda, mas quero lá saber. Enquanto andar feliz por aqui escreverei (também já houve alturas em que não me apetecia escrever nada e o blog parou, mas o bichinho vai ficando).
Reflexão muito interessante que nos faz (re)pensar nesse exercício diário de nos deleitarmos com o que escrevemos. Porém, há muitas diferenças entre os autores de blogues que povoam a nossa blogosfera...
Recorrendo à terminologia que usaste, diria que há os que só atingem o prazer quando alcançam elevados números de visitas/seguidores/comentários; e por outro lado os que têm prazer nas pequenas coisas, nos detalhes, na escrita em si, na partilha de factos/ideias/devaneios que podem ser banalidades do quotidiano, mas que não deixam de ser um espelho daquilo que realmente são. E só nestes últimos podemos encontrar pessoas que nos cativam, pelo que são - ainda que mais ou menos banais - e não pelo que pretendem ser à mercê de publicidade e graves dependências de rankings de visitas.
PS - Se eu fosse a contabilizar os textos que publiquei que não estimularam um único comentário e vivesse em função disso, provavelmente já tinha cortado os pulsos ;) Pelo contrário, até agradeço pouca visibilidade porque só assim consigo interagir genuinamente com os que me lêem e não tenho a infelicidade de me deparar com milhentos comentários mono'palávricos' estilo "adoro"; "uau"; "que giro"; "também acho"...
Todos os blogues, em maior ou menor grau, encerram alguma forma de narcisismo! Alguns há que são verdadeiramente dotados para a representação teatral, outros são mais terra-a-terra.
Quanto aos contadores de comentários e afins, apraz-me dizer que um tolo terá sempre sucesso na medida em que houver outros mais tolos que o apreciem e achem inteligente!
Ainda um dia gostava de ter 100 comentários num post para ver se me fazia uma coceguinha boa. Tenho de perguntar às pros qual é a técnica para chegar lá (provavelmente envolve deixar de escrever para mim própria).
Meninas, a estupefação surge-me em catadupas, mas é mais quando alguém que provavelmente passa o dia a meter carimbos em impressos, ou a limpar a própria sanita como hobby incorpora uma certa profissão de sonho.
A malta ainda não descobriu a Kidzania.
Nua e crua :)
Há tempos um anónimo deixou-me um comentário em que dizia que não acreditava em nada do que se escrevia nos blogues.
Falando do meu, só surgiu porque um dia quando não pensava voltar a ser mãe eis que o universo nos surpreendeu a todos enquanto família...resolvi então escrever sobre este amor incondicional. Pode não interessar a ninguém mas eu gosto de escrever e o que ali vou gatafunhando é para a M ler um dia...se ela quiser.
Bj
Precisamente meu anjo, precisamente. :)
bjos
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