A propósito do meu último post, surgiu uma pequena troca de ideias que me pôs a pensar no conceito de arte. E cheguei à conclusão que ao longo dos anos se tem vindo a banalizar esta palavra.
Hoje em dia tudo pode ser chamado de arte e qualquer paspalho apelidado de artista. Com a frenética liberalização de tudo o que mexe, também se liberalizaram palavras.
Já sei que é um conceito profundamente subjectivo e o que é Arte para uns, não significa nada para outros.
Mas para mim, em toda a minha subjectividade/ignorância, a arte tem que me comover. Tem que me fazer pensar: Como é que este tipo conseguiu pintar isto? Como é que conseguiu dar a sensação de luz, de tristeza, de emoção, apenas com um pincel e tintas?
Arte para mim tem que me fazer dizer: Nem num milhão de anos seria capaz de fazer isto.
O mesmo se aplica à arquitectura. Se caminho numa rua entre edifícios que me fazem parar, apreciá-los, sentar-me simplesmente a olhar para toda a harmonia que transmitem. Sinto-me perante uma forma de arte.
Se pelo contrário, passo por um edifício que me dá vontade de vomitar/urinar para a sua fachada, sinto-me perante a forma mais vil de poluição visual e no entanto há quem apelide os seus criadores de artistas. E aqui deveria haver multas para certas aberrações que vejo por este país fora.
Depois temos as exposições temáticas, essas que só a elite entende. Como enfiar um cão a morrer à fome numa sala de exposição e chamar-lhe arte e depois chamar burros aos que não percebem a raíz da coisa, aos que não estão bem a ver o que o artista quis transmitir.
Eu ainda defendo que para ser artista é preciso fazer um bocadinho mais do que meia dúzia de pontos numa tela, ou enfiar um cagalhão no meio de uma sala e dar um tema à exposição em volta da defecação.
Chamem-me antiquada, mas isto sou apenas eu, bruta como as casas, a pensar alto...
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Há 4 semanas
27 comentários:
Ana, se encararmos a arte como algo que mexe conosco, que nos causaalgum tipo de sentimento, isso é válido tanto para o que nos comove como para o que nos dá vontade de vomitar/urinar em cima!!
Também concordo queo conceito de arte está um pouco (muito) banalizado mas, temos de estar sempre receptivos a novas experiencias!!!
Miguel só que eu encaro a arte como algo que não me causa repulsa. Sou uma pessoa aberta a novas experiências, mas não quer dizer que goste de todas elas, entendes?
Arte é dizer o comum com intenção estética. Como o que é bonito para uns é pavoroso para outros, enfim, estaremos aqui às voltas durante anos a fio.
Mas tenho algumas coisas mais objectivas a dizer sobre o assunto, a ver vamos:
Uma coisa que acho importantíssima é diferir o "não gosto" do "não presta". A diferença, acho eu, é que é preciso algum chão para dizer que "não presta", e nenhum chão para dizer "não gosto". Não gosto de literatura russa, mas ai que presta, presta.
(Acho o único "não presta" que já disse na minha vida foi sobre aquele filmeco horroroso do Benjamin Button, não me controlei.)
Também há que ter em mente o objectivo do objecto (argh!) em questão. Meter Toni Carreira no mesmo saco de Marisa Monte é de uma injustiça tremenda para o primeiro. Ele tem o seu público-alvo e atinge perfeitamente os seus objectivos, bem como a segunda. Como li algures, cachaça e champanhe sim, cachaça com champanhe não. O mesmo se passará com o Orgulho, Preconceito e Zombies: tem a sua intenção estética, por isso terá o seu público.Ele não quer competir com nenhuma Jane Austen, viva ou morta.
Em tempo: Um cão a morrer de fome ou qualquer outro sofrimento causado a um ser sem o seu consentimento é uma questão ética, até legal, mas nunca artística. Mas pelo que li, isso é um hoax da net, quer dizer, a foto é real, mas não foi beeem como contam.
Pelo que li, o cão foi alimentado e esteve preso 3 horas sendo libertado de seguida.
O artista aproveitou a onda e alimentou a notícia do cão ter morrido na exposição, isto porque a ideia que ele queria transmitir era que as pessoas se virem um cão a morrer nas ruas não fazem nada e se o virem a morrer numa exposição indignam-se. Queria apenas alertar para a crueldade de que os animais são vitimas e a hipocrisia das pessoas. Para o conseguir tinha de "matar" o cão.
Eventualmente o cão morreu nas ruas abandonado, mas não na exposição.
A arte, como o gosto, pelos vistos discute-se :-) E discute-se porque, sendo um produto humano, também é social, os gostos não são inatos e biológicos, aprendem-se. É natural que as pessoas gostem de coisas diferentes e tenham diferentes opiniões sobre estas coisas, tem que ver com os seus processos de socialização e educação para elas.
No post de baixo achei piada porque não me diz absolutamente nada. Não gosto nem desgosto de zombies, o mesmo para a Jane Austen.
Para dar um exemplo, também me enfurece ir ver filmes em que sinto que o realizador está a gozar comigo, mas já discuti sobre e me fizeram ver que ele tem o direito de passar a mensagem como quer. Não deixa de ser verdade... E, como diz o provérbio "que seria do mau gosto se não fosse o amarelo?" (e até gosto de amarelo).
Parece-me que, muitas vezes, se quer ser tão, mas tão diferente, que, no meu entender, a tal simplicidade fica esquecida.
Ana, não te preocupes, eu também sou bem brutinho:)
Estou contigo Ana C. para mim arte tem de me transmitir alguma coisa, um sentimento.
Uma tela branca com um ponto preto para mim não é arte, é simplesmente uma m**** qualquer.
O tal pontinho preto no meio da tela terá cumprido assim a sua função! :)
Adoro este blog, tão despido de cocó, puns e chichi. Vou ter um assim quando crescer.
Ana, concordo consigo. Esse tipo de "arte", a qual adjectivo de abjecta, não deveria existir apelidada de "obra de arte", mas sim de lixo. A verdadeira arte, segundo a minha concepção, provêm do coração, de sentimentos puros. Chamar aquilo de arte é estar a denegrir o verdadeiro Artista.
Enfim, quero que saiba que gostei muito do seu blog e faço tenção de cá voltar. Fique bem!
Melissa Arte é, segundo o diccionário: Dom, Engenho, Génio, Talento, faculdade, destreza.
E tudo isto são coisas bem fáceis de distinguir mais ou menos a olho nu. Se olho para um quadro com um ponto negro e para um quadro de Vermeer, não vou hesitar nem por um segundo em rotular um de expressão de arte e outro de um desenho que a minha filha poderia fazer, sem engenho, sem dom, sem destreza.
Daí eu ter dito que se banalizou a palavra arte, estendendo-a a todas as manifestações do homem. Um cão, a morrer, ou não. Isso não é o ponto fulcral. Um cão preso com uma corda numa sala de exposição não é arte. Que engenho contribuiu para aquilo? Que dom foi necessário? Talvez o dom da estupidez...
Hugo isso é então uma experiência sociológica e não arte. Entendes o meu ponto? O que está em causa não é o cão ir morrer, ou não. É como um cão preso por uma corda numa sala poder ser sequer pensado como forma de arte. Esse tipo ser chamado de artista é que me dá a volta à cornadura...
Precis concordo e não concordo. Primeiro para começar a discutir sequer se gosto, ou não daquela obra de arte. Ela tem que ser uma obra de arte. Depois da classificação feita partimos para o gosto sim. Mas a premissa tem que lá estar. Arte é uma manifestação de um dom especial, de um talento, de um engenho (definição do diccionário). Posso gostar, ou não de um cão numa sala de exposição, repugnar-me, divertir-me, revoltar-me. Tal como me aconteceria se visse um acidente na estrada. Fico sensibilizada, mas isso não é arte...
Kilgore e quando eles divagam sem parar acerca de conceitos, profundidade, estética subjacente e depois olhas para a dita obra e é um par de clips colados num placard? Ah AH Ah
Fiquei contente por saber que és bruto como as casas...
Kitty para ver uma merda qualquer, prefiro os desenhos da minha filha :)
Melissa, qual função? A de nos fazer dizer: Olha que granda merda? Eu também gostava de ser artista só para que as pessoas pudessem dizer isso da minha arte. Ah Ah AH Ah
Quando ao resto, muito obrigada pelo elogio. Prezo muito a tua opinião :)
João Pedro nem mais. Arte é uma coisa, lixo é outra. Se lhe quiserem chamar manifestação do autor, expressão plástica. Agora do lixo à arte vai uma grande, grande distância.
Muito obrigada pela visita, por favor volta sim que eu tenciono voltar à Autópsia das Palavras :)
Olha que arte também é, entre outras definições:
4. expressão de um ideal estético através de uma actividade criativa.
Entendo o teu ponto de vista e claro que gosto muito mais de Vermeer do que de pontos pretos na parede, mas o ponto preto na parede é também um ponto de vista estético, tem uma intenção.
A mim também me ultrapassa os pontos pretos na parede, mas concordo com o que o Hugo disse: foi necessário, para chegarmos até hoje, passarmos por Van Gogh, por Picasso e por tantos outros iconoclastas.
Eu nem gosto de pensar nessa história do pobre cão, porque me dá vontade de cuspir na cara do suposto artista ( e olha que acho o acto de cuspir um dos mais nojentos que o ser humano é capaz de desempenhar). Não sei se lhe dava uma valente carga de porrada, se o atava a um cordel e o deixava morrer à fome. Fico possuída só de pensar nisso.
Concordo plenamente com tudo o que disseste e para mim a arte não é uma área assim tão abrangente. Nem toda a gente que se acha capaz de amontoar três latas vazias de Coca-cola pode ser chamado de artista.
Adorei a imagem da Casa Batlló, tenho uma foto dela na parede da minha sala!!
Isso sim, é arte!
Ana. Se cuspisses ainda te chamavam artista e te convidavam para uma exposição sobre o escarro. Ah Ah
De resto estamos de acordo. Quando ao Gaudi e só para não me chamarem conservadora, porque penso que ele é tudo menos conservador, é uma paixão que tenho.
Quando fui a Barecelona tive que me beliscar para perceber que não estava a sonhar, que tudo aquilo tinha saído da cabeça de um homem...
Chamem-lhe arte ou o que entenderem, eu gosto ou não gosto. Há coisas que simplesmente acho de um mau gosto incrível. E para mim não as vejo como formas de arte, mas sei que é um assunto discutível. Beijokas Ana C.
As coisas muitas vezes são retiradas do seu contexto.
Se alguém olhar para um quadrado azul ou um ponto preto hoje num museu diria que aquilo é uma merda e concordo que não seja a pintura mais estimulante. No entanto, muitas vezes o que acontece é que se está a olhar para a tela com um olhar de hoje. Se formos lá ver o letreiro provavelmente descobrimos que o quadrado azul e o ponto preto foram feitos em 1910. E digo-te que se fosse vivo em 1910 e visse uma tela com um quadrado azul acharia genial, da mesma forma que acho o máximo o orgulho e preconceito com zombies.
Acho que também não devemos de olhar para uma obra de arte e achar que "aquilo também nós conseguimos fazer". As coisas não são bem assim. Porque muitas vezes não é o engenho que está em jogo, mas a ideia. Não se enganem os mais críticos, o gajo que pinta o quadrado azul pinta maravilhosamente bem, simplesmente optou por fazer aquilo.
Mas acima de tudo os gostos não são iguais e o que para uns é uma coisa abjecta para outros é uma maravilha.
Mas isso sou eu que também sou bruto como as casas.
O Hugo é delicado como uma pluma.
Mariinha eu sabia que era discutível, mas nunca pensei que fosse tão discutível ;)
Hugo sabes o que é que eu acho? Que tu é que és o verdadeiro artista. Escreves bem como tudo, principalmente quando falas do teu filho.
Agora voltando à ficção:
Acredita que já vi vomitados sobre a tela, cuja data não remonta ao princípio do Séc. XX ;)
Como já tinha dito em cima, o conceito de arte é uma premissa sobre a qual o gosto pode variar sim. O que é que pode ser considerado arte é que se tem estendido muito além do razoável...
Melissa realmente, o homem escreve com uma delicadeza absurda, quando só lhe apetece partir-me um vaso na cabeça e ainda diz que é bruto como as casas? Só um homem assim é que podia aturar-te. Ah Ah Ah Ah, desculpa mas não resisti...
A arte é uma expressão da época. Se vivemos num mundo materialista e consumista e desprovido de valores e de espiritualidade, o que se pode esperar da arte?? Por exemplo, o Warhol, aquilo que ele produziu não é, aos meus olhos, belo. No entanto, é um espelho brilhante do que se começou a fazer na época dele: a reprodução em massa da arte.
Um quadro com uns pontos: o Miró deixa-me sempre parada/"perturbada" a olhar para o quadro dele que se resume a uma tela pintada de azul com um ponto vermelho... e não me perguntes porquê - há ali uma harmonia francamente irresistível.
O Hugo, partir um vaso na cabeça de alguém?? hehe, tou para ver. A única coisa que o tira do sério são jogos de tabuleiro. Falas mal do Prince of Florence ou do Containers ou do raio que o parta e conheces o Mr. Hyde cá do sítio.
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