Se há uns anos atrás me dissessem que iria estar aqui onde estou hoje não acreditaria.
Nunca fui daquelas mulheres cuja missão de vida era ser mãe. Sempre me imaginei a escrever para uma revista, a fazer reportagens por esse mundo fora, de computador no colo e máquina fotográfica em punho.
No Trans-Siberiano, ou numa qualquer embarcação perdida num rio recôndito. Na base de uma pirâmide no Egipto, numa Gôndola em Veneza, numa ruína Maia.
Escreveria em qualquer lugar sobre o que via, o que sentia, quem conhecia. Escreveria sobre qualquer coisa que me pedissem, em qualquer tom que me exigissem, sem nunca me perder mais do que o necessário, de forma a poder sempre encontrar-me de novo, de cada vez que regressasse a casa.
Tirei Direito quando a minha vocação era a escrita e sou mãe a tempo inteiro.
Escrevi algumas novelas, um livro, ajudei numas séries. Escrevo aqui todos os dias. Mas nunca fiz o que realmente queria.
Sempre que olho os meus filhos sei que tudo valeu a pena, que tudo serviu para chegar até ao Hugo e até eles e que sou verdadeiramente abençoada.
Mas aquela vida que sonhei desde sempre continua no lado de dentro de mim, naquele lado que ninguém vê, na sombra e essa sombra volta de vez em quando para me atormentar, para me fazer sentir pouco lutadora. Menos eu.
Grandes diálogos: O Apartamento
Há 1 mês
31 comentários:
Quando passei por isso, há uns anos, mandei parar o baile todo.
Mesmo sendo mais difícil, com filhos, espero que faças a mesma coisa. Porque uma coisa posso garantir: independentemente dos feitios, essa sensação não passa com o tempo.
PS - e, claro, não estou a dizer que dá para cumprir os sonhos timtim por timtim - eu, por exemplo, queria ter sido uma arqueóloga famosa - mas, com esforço e coragem, dá para fazer alguns compromissos por nós mesmas. :)
Tenho fé. :)
Sou leitora assídua deste cantinho e hoje finalmente, resolvi-me a comentar.
Sou também eu mãe de uma criatura com 11 meses, desempregada, à espera de um lugar ao sol, na área do social. Revejo-me tanto no que todos os dias escreve, mas este post tocou-me, porque o que sonhámos e queremos para nós parece ficar eternamente adiado, vai-nos corroendo, aparece sem dar-mos por isso nos nossos pensamentos e impõe-se atormentando-nos. Mas também eu quero acreditar, que adiámos o sonho, apenas isso, em nome da felicidade diária, vivida ao lado da nossa maravilhosa família!
Melissa mas como é que posso mandar parar o baile? É que não sou só eu a dançar...
Tenho que encontrar esse meio termo de sonho.
Elisabete apesar de me leres na sombra, sem comentares,hoje comentaste por todas as vezes que não o fizeste :)
Adorei as tuas palavras. Tal como te identifaste com as minhas, também eu me identifiquei com as tuas.
Ana, eu gostava de deixar um testemunho de esperança mas a verdade é que não posso, já que sonhos adiados são a minha história de vida. No entanto acho que tens em ti pelo menos uma forma de te realizares pela escrita, não sei se vou dizer algum disparate que não sei nada sobre esse mundo-eu que queria ser cientista, acho que podias tentar escrever e publicar outro livro. Cá te espero na FNAC do Norteshopping para a sessão de autógrafos.
:)
E porque não uma dupla:
AnaC-Melissinha?
Um programa de televisão para nos fazer dar umas valentes gargalhadas?
(E não, não passa com o tempo mesmo!)
Ginguba já pensei nisso muitas vezes, mas agora simplesmente não tenho disponibilidade para me dedicar à escrita de um livro.
Mas esse é um projecto que vou concretizar :)
Quanto à dupla que falas até que não é uma má ideia...
Quando conheceres alguém que faz exactamente auilo que sonhou quando era jovem adolescente avisa tá?
Enfim, faz-se o que se pode cpm o que se tem...
Pois eu gosto mais de ver as coisas por outro lado, e de outra forma.
Se tu tens talento?
Tens pois!
Não fazes nada por esse talento?
Pois, talvez não!
Estás a arranjar desculpas?
No meu ponto de vista estás pq tens medo de falhar (?) achas que já é tarde(?) achas que não vais ganhar nada com isso (?). Mulher, tu sabes escrever, escreves bem, és inteligente, gostavas de ser feliz na escrita, e blá blá blá...
LUTA POR TI!
Tens dois filhos?
Pois tens, e então? E aquelas que com 5 filhos ainda conseguem ter tempo para pintar as unhas, são super mulheres (?) são mais que tu (?) não me parece!
Luta por ti, luta por aquilo que queres, escreve para ti, para nós, para o mundo, para a tua gaveta, para o raio que parta, mas todos aqueles minutos off das sonecas dos teus filhos, aqueles 5 minutos sentada na sanita, aqueles 2 minutos em que eles como que por magia se calaram, aproveita-os e ESCREVE, aproveita-os e SÊ FELIZ!
Os sonhos transformam-se e transforma-nos. Isso é bom. E é bom manteres esse sonho tangível, porque um dia, um qualquer dia, darás um passo em frente. Em qualquer sentido. Mas olha que na verdade tens dado uns valentes passos na vida. O sonho esse pode cumprir-se ou ir-se cumprindo dia a dia, aos bocadinhos.
E se te consola nem que seja um bocadinho: a mim fazes-me viajar muitas vezes através da tua escrita. Contigo descobri muitas vezes aquilo que queria dizer ou sentir ou pensar. Fizeste-me descobrir muitas vezes o outro lado das coisas, o outro lados dos sentidos, fizeste-me ver a vida com outros olhos. E por isso, obrigada.
Isso do "Faz-se o que se pode com o que se tem" é esticável, vale lembrar para todo mundo daqui. E isso é uma boa notícia! Dá sempre para fazer um pouquinho mais, dá sempre para se realizar um pouco mais.
Mandar parar o baile é fazer com que todo mundo em casa para o que está a fazer e olhe para ti (para nós) e veja que precisas de ajuda para concretizar alguns planos. Vale para todo mundo. Para mim também.
Boa sorte - a todos!
Como te compreendo... E acho tanto que são sempre as mulheres a acabar por ceder esse lado de nós que sonhámos. Precisavamos de ter várias vidas paralelas!
Resta-nos acreditar que a vida é feita de fases, que teremos tempo para tudo o que sonhámos e mais para outras coisas que vêm de surpresa.
Olá, tb eu sou leitora atenta, mas nunca comentei. Posso dizer que quando descobri o blog deliciei-me e identifiquei-me com tanto. Também já fui mãe a tempo inteiro e neste momento tenho alguns trabalhos que desenvolvo em casa... o que acaba por ser quase a mesma coisa!! Também o meu 2º filho é um António (super desejado e planeado) e faria amanhã 1 ano (sim, outra história...). Quanto a este post digo uma frase que ouvi em tempos "uma coisa é a vida vivida, outra coisa é a vida sonhada"... e isto vale para tudo, tudo mesmo. Eu que o diga.
Bjs
Miguel eu não falo de um sonho de adolescente, é mesmo um sonho de adulta. E tu o que é que querias ser?
Laranja mas tu deste-me uma grande estalada psicológica caramba mulher. Eu gosto que me acordem ao estalo quando estou assim adormecida numa onda de nostalgia :)
3Picuinhas acredita que me consola e muito chegar aqui e sentir que há uma cambada de mulheres que acha realmente piada ao que escrevo e que se identifica de vez em quando. Isso quer dizer que não estamos sozinhas mesmo :)
gralha é isso mesmo, eu digo que a vida é feita de marés baixas e altas, mas que no conjunto formam uma imensidão chamada mar e do mar eu gosto e muito...
Lucia obrigada por teres decidido falar. Hoje foste o meu acordar. Sabes que às vezes sentir as histórias de outras pessoas faz-nos dar valor à nossa própria história.
Posso não ter realizado (ainda) alguns sonhos, mas tenho muita sorte por uma quantidade imensa de outras coisas e hoje dei-lhes muito mais valor por aquilo que percebi da tua história.
Obrigada por isso e um grande, mas mesmo grande abraço virtual...
Tantas opiniões, algumas poderia assinar por baixo. Apenas te digo, que não deves pôr de lado o que gostavas mesmo de fazer. Ana, os teus filhos não vão ser sempre pequenos. O teu bebé vai crescer e mais depressa do que julgas. Porque não, pensares que daqui por uns tempos, vais lutar por isso. Os teus filhos podem ir para um infantário. Não vais ser a primeira mulher casada, que tem crianças e trabalha. Ficar em casa todo o tempo não te aconselho a ti, nem a ninguém, sobretudo se a mulher tem vontade de fazer coisas. Ser mãe a tempo inteiro pode ser a realização de algumas mulheres, mas não será para muitas.
Pensa nisso e vai fazendo contas. Quando o António tiver 1 ano? Um ano e meio?
Se não te mexeres, deve ser difícil virem bater-te à porta e dizer.
- Oh, D. Ana C. a senhora não quer ir escrever para a minha revista?
Luta pelo que tens na realidade vontade de fazer, vais ser de certeza muito mais feliz e farás mais felizes os teus.
Desculpa-me escrevi demais.Bom fim de semana.
Beijinhos
A Mariinha faz-me lembrar algumas grandes mulheres da minha vida. :)
(Bem, vim cá muitas vezes hoje. irra.)
Ana, sei da insatisfação que falas... eu era suposto larear a pevide pelo mundo como sr.ª diplomata, assim o sonhava. Mas acabei nas obras a fazer uma coisa para a qual tenho vocação, pena que seja tão inglório em certos dias...
estou com todos os que aqui disseram que há sempre um amanhã!
e só posso dizer-te uma coisa: se analisares bem, se calhar realizaste sonhos que tinhas, mas de uma forma diferente. Não tão "tcharan"!!!...
Eu às vezes faço o exercício de olhar e ver que afinal tudo o que fui desejando, se concretizou, de uma forma ou de outra, só que nem sempre é óbvio!
O que eu acho que é importante no meio disto tudo é que continues sempre a sonhar: em grande, em pequeno, em médio... com filhos bebés, com filhos crescidos, com eles na cochichina, enfim!
Não é fácil fazermos o que queremos, com filhos ou sem eles.
Nunca sonhei com nada em miúda, sou muito pés na terra. Ou sonhei, com dançar :-) Nunca fui orientada para isso, não deu. Depois apercebi-me do que gosto de fazer já depois de fazer. E já um bocadinho tarde para conseguir manter. Mas talvez ainda vá a tempo de o conseguir outra vez e é por isso que arrasto a tarefa que arrasto durante o tempo "livre" que tenho. É mais fácil sem ter filhos, é. Mas teres sonhado com alguma coisa e ainda a poderes realizar já é muito bom. Como te disse, há quem não tenha passado por isso ;-)
Embora não seja mãe, identifiquei-me imenso com as tuas palavras. Para mim, nem sempre é fácil estar onde nunca pensei vir a estar e não fazer o que sempre sonhei fazer. Também tenho esse espacinho em mim onde guardo coisinhas que me são valiosas e se por um lado isso me atormenta, por outro faz-me lutar e amar ainda mais o que tenho, o que faço e, talvez de uma forma estranha e que só eu compreendo, tudo por que passei até chegar aqui...
Bjs xx
pois eh, mais um testemunho de alguem k tem vindo a adiar os sonhos e vive atormentada por eles, pk senao os seguir-mos sao eles k nos perseguem...transformado-se nos nossos piores pesadelos. O melhor eh ir alimentando-os (nem k seja sentada na sanita, como disse a Laranja-Limao:-))...e acreditar k a tua(nossa) vez ha-de chegar!
Bem, já que se iniciou uma onda de leitoras anónimas que resolveram "sair do armário" perante este post, vou fazer o mesmo :).
Também eu já te leio há algum tempo, e gosto muito do teu blog. Foi daqueles de descobrir por acaso, e ficar presa a ler posts antigos de uma assentada.
Também eu me revejo muito neste post.
Também eu adoro a maternidade.
Mas de tempos a tempos há algo que se remexe dentro de mim, e esses sentimentos agitam-se e relembram-me que ainda estão aqui..à espera de se poderem manifestar..
Mas a inércia teima em ser mais forte. A vida, sempre a correr, volta a empurrar estes sentimentos, bem lá para o fundinho.
Também eu gostava de saber a receita para conseguir lidar com tudo isto, e ainda andar maravilhosamente arranjada e sem olheiras até aos pés..
Talvez um dia..
Beijinho!
Mariinha tal como a Melissa diz tu és uma espécie de mãe da blogosfera. Preocupas-te se durmo bem de noite, se o António está mais calmo, dás-me conselhos maternais, enfim, olha OBRIGADA por andares por aqui a zelares por mim :)
Precis teres descoberto o que gostavas de fazer e teres decidido não abrir mão disso revela que tens tanto de pés assentes na terra, como de apaixonada ;)
Ana mas porque é que não sairam do armário mais cedo? Com comentários tão ricos é um desperdício fecharem as portas ;)
Quanto ao resto só te posso dizer que a palavra inércia (mental, porque física não me posso dar ao luxo) tem sido a minha pior inimiga...
Ana, há alguns blogues que adoro ler e que sigo fielmente, sem nunca ter comentado.
É estranho..mas sinto-me como se chegasse a um café e observasse ao longe a conversa de alguem..e, de repente, me sentasse à mesa e me intrometesse na conversa. Bem sei, que o conceito de blog tb passa um bocado por aí, mas mesmo assim.. :)
Há por aí na blogosfera pessoas fantásticas e que às vezes me fazem pensar q poderíamos ser óptimas amigas..eheh
É mesmo um mundo muito rico e que me faz pensar que afinal ainda há esperança na humanidade..
Gosto muito da tua escrita..
Qd escreveres o teu livro, bem podes contar comigo na fila dos autógrafos. :P
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Gosto da sua escrita, gosto deste cantinho! Confesso que sigo 2 a 4 blogs diariamente, este é único sério que me cativa (os outros são os típicos de "gaja", moda, futilidades...) este prendeu pela escrita, pelos desabafos, pela mulher forte que imagino através de cada palavra. Eu sei que isto é só um blog, mas toca tanta gente como a mim. Será já SÓ um blog? pense nisso, a sua escrita aqui pode já ter mais peso que imagina..e pode até ser O caminho.
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